Um Aumento que Pega Investidores de Surpresa

Em 27 de maio de 2025, o Nubank, maior banco digital da América Latina, chocou seus 100 milhões de clientes ao anunciar um aumento drástico nas taxas para compra e venda de criptomoedas em sua plataforma Nubank Cripto. As alíquotas, que subiram até 200% para transações acima de R$ 10 mil, foram justificadas pelo banco como uma resposta ao recente ajuste do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo Ministério da Fazenda. Mas a explicação não convenceu todos. Com o Bitcoin cotado a US$ 109 mil (cerca de R$ 600 mil), o aumento encarece um mercado já aquecido, levantando suspeitas: é apenas o IOF ou o Nubank está inflando custos para lucrar mais?

As novas taxas, aplicadas desde o anúncio, variam conforme o volume de transações nos últimos 45 dias, atingindo especialmente pequenos investidores. Enquanto o banco aponta o dedo para o governo, especialistas e usuários questionam a transparência da medida e seus impactos. Esta investigação destrincha os números, as justificativas, as críticas e o que os investidores podem fazer para driblar esse novo obstáculo no mercado cripto.

As Novas Taxas: Um Salto de Até 200%

O Nubank detalhou as mudanças em comunicado oficial, com alíquotas ajustadas com base no volume de transações nos últimos 45 dias:

  • Até R$ 99: Taxa subiu de 0,8% para 1,2% (aumento de 50%).
  • De R$ 100 a R$ 1.999: Taxa passou de 0,6% para 1% (aumento de 66,7%).
  • De R$ 2.000 a R$ 9.999: Taxa foi de 0,4% para 0,8% (aumento de 100%).
  • Acima de R$ 10.000: Taxa saltou de 0,2% para 0,6% (aumento de 200%).
  • Trocas diretas de criptoativos: Permanece isento, com alíquota de 0%.

Essas taxas incidem sobre compras e vendas de criptomoedas como Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Solana (SOL) e USD Coin (USDC), disponíveis no Nubank Cripto, que opera em parceria com a Paxos. Para um investidor que compra R$ 10 mil em Bitcoin, a nova taxa de 0,6% significa um custo extra de R$ 60 por transação, contra R$ 20 anteriormente. Para pequenos investidores, a alíquota de 1,2% em transações de até R$ 99 pode tornar o investimento menos atrativo.

O IOF é Mesmo o Vilão?

O Nubank atribui o aumento ao ajuste do IOF anunciado pelo Ministério da Fazenda em 22 de maio de 2025. A medida elevou a alíquota para operações de câmbio e moeda em espécie de 1,1% para 3,5%, impactando transações internacionais, como a importação de criptoativos. Um executivo do setor cripto, que preferiu não se identificar, explicou ao Metrópoles: “O Nubank compra criptoativos no exterior, em dólar, e o IOF incide sobre o câmbio, encarecendo a operação.”

No entanto, a relação direta entre o IOF e as taxas do Nubank é questionável. Criptomoedas não são diretamente tributadas pelo IOF, e o aumento das alíquotas do imposto não justifica integralmente os reajustes de até 200%. André Franco, analista da Empiricus, sugere que o Nubank pode estar usando o IOF como pretexto para cobrir custos operacionais ou aumentar margens. “O IOF de 3,5% no câmbio não explica um salto de 0,2% para 0,6% em transações altas. Há outros fatores, como spread e taxas de parceiros, que o banco não esclarece.”

A Reação do Mercado e dos Usuários

A notícia gerou indignação no X, onde usuários criticaram a falta de transparência. “O Nubank joga a culpa no governo, mas quem paga somos nós”, postou @InvestidorSP. Outro usuário, @CriptoFanBR, ironizou: “Taxa de 1,2% para R$ 99? É melhor guardar o dinheiro embaixo do colchão.” A hashtag #NubankTaxas ganhou tração, com relatos de clientes considerando migrar para corretoras como Binance, OKX e Mercado Bitcoin, que cobram taxas menores (0,1% a 0,7%).

O mercado cripto, aquecido pela alta do Bitcoin, também sentiu o impacto. O aumento das taxas ocorre após a criação do Strategic Bitcoin Reserve nos EUA, que elevou o preço do BTC em 11% em uma semana. “O Nubank está dificultando o acesso ao mercado cripto em um momento de euforia. Isso pode afastar novos investidores”, alerta Fernanda Lima, especialista em blockchain da USP.

O Contexto do IOF e a Reação do Governo

O aumento do IOF, anunciado em 22 de maio de 2025, foi uma tentativa do governo Lula de aumentar a arrecadação em meio a pressões fiscais. A proposta inicial elevava o imposto para 3,5% em remessas internacionais e investimentos estrangeiros, mas o governo recuou parcialmente após críticas, mantendo a alíquota zero para investimentos de fundos e reduzindo o impacto em remessas. Ainda assim, operações de câmbio, como as usadas pelo Nubank para comprar criptoativos, passaram a pagar 3,5%.

A medida também incluiu outras mudanças, como a tributação de 5% sobre aportes acima de R$ 50 mil em seguros de vida com cobertura por sobrevivência e a equiparação de cooperativas de crédito com faturamento acima de R$ 100 milhões a empresas regulares. Essas alterações geraram receios de um “efeito cascata” em produtos financeiros, como o ocorrido na crise do Pix em 2024, quando rumores de taxação levaram a protestos nas redes.

Críticas e Suspeitas de Oportunismo

Especialistas questionam a justificativa do Nubank. “O IOF incide sobre o câmbio, mas o aumento das taxas parece desproporcional. O banco pode estar repassando custos de compliance ou spread para os clientes”, diz João Carlos, economista da FGV. A falta de resposta do Nubank à imprensa até 27 de maio reforça as suspeitas de opacidade. Em 2024, o banco enfrentou críticas por taxas elevadas em outros serviços, como o cartão Ultravioleta, sugerindo um padrão de aumentos para maximizar lucros.

No X, posts como o de @FinançasBR apontam que corretoras locais, como o Mercado Bitcoin, mantiveram taxas estáveis apesar do IOF. “Se o Nubank precisa importar cripto, por que não negocia melhores condições com parceiros como a Paxos?”, questiona o usuário. A ausência de isenção para pequenos investidores, como os que transacionam até R$ 99, também é vista como um descaso com o público que popularizou o banco.

Impactos para os Investidores

O aumento das taxas encarece a entrada no mercado cripto, especialmente para iniciantes. Um investidor que compra R$ 500 em Bitcoin agora paga R$ 5 de taxa (1%), contra R$ 3 antes. Para transações de R$ 10 mil, o custo sobe de R$ 20 para R$ 60, um impacto significativo em investimentos de longo prazo. “Para quem faz trades frequentes, essas taxas corroem os ganhos”, explica Fernanda Lima.

A isenção nas trocas diretas de criptoativos (como BTC por ETH) é um alívio, mas beneficia apenas investidores experientes que diversificam portfólios. Pequenos investidores, que representam 70% dos usuários do Nubank Cripto, segundo dados internos de 2024, são os mais prejudicados.

Como se Proteger e Alternativas

Para minimizar o impacto, os investidores podem adotar estratégias práticas:

  • Compare corretoras: Plataformas como OKX (taxas de 0,1% a 0,2%) e Mercado Bitcoin (0,3% a 0,7%) oferecem custos menores. Verifique a segurança e a reputação antes de migrar.
  • Aposte em trocas diretas: Use a isenção do Nubank para trocar criptoativos sem taxas, se possível.
  • Monitore taxas escondidas: Além das taxas anunciadas, o Nubank aplica um spread (diferença entre preço de compra e venda) que pode chegar a 2%, segundo analistas.
  • Denuncie abusos: Se suspeitar de cobranças indevidas, contate o Nubank pelo app ou acione o Procon.

Reflexões Finais: Um Golpe nos Investidores?

O aumento das taxas do Nubank expõe uma tensão no mercado financeiro brasileiro: a busca por inovação colide com a carga tributária e a falta de transparência. Culpar o IOF pode ser conveniente, mas a magnitude dos reajustes sugere que o banco está aproveitando a alta do mercado cripto para engordar lucros. A pergunta que fica é: até que ponto os clientes, que confiaram no Nubank como símbolo de acessibilidade, pagarão o preço por essa estratégia?

O mercado cripto continua aquecido, mas o aumento das taxas reforça a necessidade de educação financeira. Investidores devem comparar opções, monitorar custos e exigir clareza.

Perguntas Frequentes

Por que o Nubank aumentou as taxas de criptomoedas?

O banco culpa o aumento do IOF para 3,5% em operações de câmbio, mas especialistas apontam que custos operacionais e spreads também influenciam.

Como evitar pagar taxas altas no Nubank Cripto?

Considere trocas diretas de criptoativos (isentas) ou migre para corretoras com taxas menores, como Binance ou Mercado Bitcoin.

O aumento do IOF afeta outras plataformas cripto?

Sim, plataformas que importam ativos em dólar podem repassar o IOF, mas muitas mantêm taxas competitivas.