A escalada da guerra comercial: Trump mira o Brasil
Em julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA, com início em 1º de agosto. A decisão, comunicada em uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mistura argumentos econômicos e políticos, citando supostas práticas comerciais desleais e a perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas o que está por trás dessa ofensiva? Seria o Brasil um alvo estratégico para Trump enviar uma mensagem ao mundo? E quais são os riscos reais para a economia e a soberania brasileira?
A tensão não é nova. Desde o início de seu segundo mandato, Trump tem adotado uma postura protecionista agressiva, apelidada de “Trumponomics”. Países como China, Canadá e México já enfrentam tarifas elevadas, mas o Brasil parece ter sido escolhido como um caso exemplar. Especialistas apontam que a combinação de tarifas, investigações comerciais e ameaças de sanções tecnológicas, como o bloqueio de GPS, pode ter impactos devastadores. Este artigo investiga os riscos e as possíveis intenções dos EUA de usar o Brasil como um exemplo para intimidar outras nações.
Tarifas de 50%: um golpe econômico com motivações políticas
O impacto imediato nas exportações
O Brasil exportou US$ 40,4 bilhões para os EUA em 2024, representando 12% de suas exportações totais. Setores como suco de laranja, aço, petróleo e aviação (liderada pela Embraer) são os mais vulneráveis. O suco de laranja, por exemplo, responde por 65% a 70% das importações americanas do produto. Com a tarifa de 50%, o custo pode chegar a 70% do valor do produto, tornando-o menos competitivo. Isso ameaça 200 mil empregos diretos e indiretos no setor, segundo a Fundecitrus.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que as tarifas podem custar bilhões à economia brasileira, com a Embraer enfrentando perdas de até US$ 78 milhões com uma tarifa de 10% — um número que pode disparar com 50%. A desvalorização do real, impulsionada pela saída de investimentos para os EUA, onde os juros estão mais altos, também pode encarecer importações, elevando a inflação no Brasil.
Um pretexto político?
Trump justificou as tarifas alegando um déficit comercial dos EUA com o Brasil, mas dados do Ministério do Desenvolvimento mostram o contrário: desde 2009, os EUA têm superávit comercial de US$ 410 bilhões com o Brasil. A narrativa do déficit é, portanto, questionável. A carta de Trump também menciona a “perseguição” a Jair Bolsonaro, que enfrenta julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, e ordens de censura a plataformas americanas, como o X, no Brasil. Para analistas, isso sugere que as tarifas são, em grande parte, uma sanção política.
“O nome que se dá a medidas coercitivas econômicas para fins políticos é sanção”, afirma Guilherme Casarões, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). “O Brasil está sendo sancionado como Irã ou Venezuela, mas com a diferença de ser uma democracia e aliado histórico dos EUA.” A retórica de Trump, que inclui a revogação de vistos de autoridades brasileiras como o ministro Alexandre de Moraes, reforça a dimensão política do conflito.
Ameaças além das tarifas: o espectro do bloqueio de GPS
O que significa um bloqueio de GPS?
Entre as ameaças ventiladas, o possível bloqueio de sinais de GPS para uso brasileiro é uma das mais alarmantes. Posts no X, como os de @Prof_leonelfer e @rmanoel2020, mencionam especulações sobre sanções que incluiriam restrições ao acesso a tecnologias americanas, como GPS. Embora sejam rumores, a possibilidade não é descartada por especialistas, dado o controle dos EUA sobre o sistema.
O GPS, operado pelo Departamento de Defesa dos EUA, é essencial para setores como aviação, agricultura de precisão, logística e defesa. Um bloqueio, mesmo parcial, poderia paralisar operações de companhias aéreas, interromper cadeias de suprimento e prejudicar a agricultura, que depende de tecnologias de geolocalização para plantio e colheita. “Seria um golpe devastador para a economia brasileira, que depende de exportações agrícolas”, diz Fernando Canutto, especialista em Direito Internacional Empresarial.
Outras sanções tecnológicas
Além do GPS, há temores de bloqueios a serviços como Stripe, AWS e até o sistema financeiro Swift. Essas medidas, se implementadas, limitariam o acesso do Brasil a infraestrutura digital global, afetando startups, comércio eletrônico e transações internacionais. A Lei Magnitsky, também poderia ser usada para impor sanções pessoais a autoridades brasileiras, como congelamento de ativos no exterior.
Investigação Seção 301: uma bomba-relógio comercial
Em 15 de julho de 2025, os EUA abriram uma investigação contra o Brasil sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR). A apuração questiona práticas comerciais brasileiras, incluindo o Pix, comércio eletrônico, propriedade intelectual e até o desmatamento. O documento do USTR, porém, carece de evidências concretas, levantando suspeitas de que a investigação é um pretexto para justificar novas sanções.
Barbara Medrado, advogada da King & Spalding, alerta que sanções baseadas na Seção 301 são “complexas e de difícil reversão”. A China, por exemplo, enfrenta tarifas de US$ 370 bilhões desde 2018 por práticas semelhantes. Se o Brasil for considerado culpado, pode enfrentar cotas de importação, restrições adicionais e até sanções financeiras, ampliando os danos econômicos.
O Brasil como exemplo: uma mensagem aos BRICS?
A estratégia de intimidação de Trump
Por que o Brasil? Analistas sugerem que Trump está usando o país como um exemplo para intimidar outros membros do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul). Durante a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, Lula defendeu a criação de uma moeda comum para reduzir a dependência do dólar. Trump respondeu com ameaças de tarifas adicionais, chamando o bloco de “antiamericano”. Para Leandro Ávila, do Clube dos Poupadores, o Brasil foi escolhido por sua economia dependente e vulnerabilidades políticas, tornando-o um alvo fácil para demonstrar o poder dos EUA.
“Perder o padrão mundial do dólar seria como perder uma grande guerra”, disse Trump, segundo o G1. Ao punir o Brasil, os EUA podem estar enviando um recado claro: desafiar a hegemonia do dólar ou alinhar-se com rivais como a China terá consequências severas.
Reações internacionais
Outros países do BRICS, como a China, já enfrentam tarifas de até 54%. O México, sob a presidente Claudia Sheinbaum, optou por diálogo, enquanto o Canadá cedeu a pressões para cancelar impostos sobre empresas americanas. A estratégia brasileira, até agora, combina negociação com a possibilidade de retaliação via Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada por Lula em julho de 2025. No entanto, especialistas como Alfredo Trindade, da Ecco Planet Consulting, alertam que uma guerra comercial com os EUA pode ser mais prejudicial ao Brasil, dado o desequilíbrio de poder econômico.
Riscos econômicos e sociais para o Brasil
Inflação e desemprego
As tarifas de 50% podem elevar a inflação no Brasil, já pressionada pela alta do dólar. Produtos importados, como combustíveis e eletrônicos, ficarão mais caros, impactando o custo de vida. A CNI prevê aumento do desemprego, especialmente em setores manufatureiros, que representam 61,4% das exportações para os EUA. A Petrobras e a Embraer, gigantes do setor, já sinalizam preocupações com perdas.
Isolamento internacional
Se as sanções escalarem, o Brasil corre o risco de isolamento. A revogação de vistos para autoridades, como no caso de Alexandre de Moraes, e a possibilidade de sanções via Lei Magnitsky podem dificultar parcerias internacionais. Além disso, o Brasil pode perder acesso a financiamentos externos, já que o aumento do risco soberano encarece captações, segundo Leonardo Roesler, tributarista.
Oportunidades ou armadilha?
Apesar dos riscos, alguns analistas, como André Matos, da MA7 Negócios, veem oportunidades. A guerra comercial EUA-China pode aumentar a demanda por produtos brasileiros, como soja e carne, na Ásia. No entanto, a prática de “dumping” chinesa, alertada pela UK Steel, pode inundar o mercado brasileiro com produtos baratos, prejudicando a indústria local.
O que o Brasil pode fazer?
Negociação ou retaliação?
O governo brasileiro, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, busca negociar com os EUA para reduzir as tarifas. A OMC é outra frente, com o Brasil planejando contestar a legalidade das medidas americanas. No entanto, a paralisia da OMC, agravada pelos EUA, limita as chances de sucesso. A retaliação, via Lei de Reciprocidade Econômica, é uma opção, mas arriscada. “É Davi contra Golias”, compara Carlos Gustavo Poggio, da Berea College.
Diversificação de mercados
Outra estratégia é buscar novos parceiros, como China, União Europeia e países do Mercosul. O México e o Canadá, também alvos de Trump, podem ser aliados em negociações conjuntas. No entanto, diversificar mercados exige tempo, e os impactos das tarifas já se fazem sentir.
Uma crise com desfecho incerto
A guerra comercial entre EUA e Brasil em 2025 é mais do que uma disputa econômica — é um embate político com implicações globais. As tarifas de 50%, a investigação Seção 301 e as ameaças de bloqueio de GPS e outras tecnologias revelam um Brasil vulnerável, mas também um país que pode usar sua relevância no agronegócio e na indústria para negociar. Trump parece querer fazer do Brasil um exemplo, mas a que custo? Para o Brasil, os próximos meses serão cruciais para evitar um colapso econômico e preservar sua soberania.
E você, leitor, o que acha? O Brasil deve ceder às pressões ou enfrentar os EUA de cabeça erguida? A resposta pode definir o futuro do país.