Em uma decisão estratégica que pode redefinir o papel das criptomoedas no sistema financeiro tradicional, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou a retirada de orientações que restringiam a atuação de bancos em atividades com criptoativos e stablecoins. A mudança, divulgada em 24 de abril de 2025, sinaliza um novo momento na relação entre o sistema bancário norte-americano e o setor de ativos digitais.
Até então, os bancos precisavam obter autorizações prévias para qualquer envolvimento com criptomoedas. Com a nova diretriz, bastará seguir os requisitos normais de supervisão regulatória, como qualquer outra atividade bancária.
Contexto da decisão
A medida do Fed segue os passos de outras importantes entidades reguladoras do setor financeiro dos EUA. Em março de 2025, a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) e, em abril, o Office of the Comptroller of the Currency (OCC) já haviam revogado diretrizes semelhantes. A retirada desses obstáculos tem como objetivo “promover a inovação responsável no setor financeiro”, segundo nota oficial do Fed.
O movimento ocorre em um momento em que os Estados Unidos buscam estabelecer uma base regulatória mais clara e competitiva para ativos digitais, diante da crescente adoção de criptomoedas por parte de investidores institucionais e do avanço tecnológico em sistemas de pagamento descentralizados.
Reação do mercado e especialistas
A notícia foi bem recebida pela comunidade cripto. Michael Saylor, fundador da empresa Strategy (ex-MicroStrategy), celebrou o fato de que “os bancos agora estão livres para começar a apoiar o Bitcoin“. Para investidores e empresas do setor, o sinal verde do Fed pode acelerar a entrada de capital institucional, reduzir barreiras operacionais e fomentar novas integrações entre o sistema bancário tradicional e as finanças descentralizadas (DeFi).
No entanto, algumas ressalvas permanecem. Caitlin Long, fundadora do Custodia Bank, apontou que uma orientação anterior do Fed, aprovada por voto do conselho em 2023, ainda está em vigor e limita certas operações. Segundo ela, a revogação completa dependeria da aprovação de uma legislação específica sobre stablecoins.
Potenciais impactos no Bitcoin e no mercado global
A retirada das restrições regulatórias pode beneficiar diretamente o Bitcoin e outros criptoativos, ao facilitar o acesso e a custódia por instituições financeiras regulamentadas. Isso tende a reforçar a legitimidade do setor, melhorar a liquidez e reduzir a percepção de risco entre investidores tradicionais.
Além disso, a medida favorece o desenvolvimento de produtos financeiros lastreados em criptoativos, como ETFs, contas de poupança com rendimentos em Bitcoin e crédito lastreado em stablecoins, ampliando o alcance desses ativos para o público geral.
Em nível global, o avanço regulatório norte-americano pode pressionar outras economias a acelerar discussões semelhantes, tanto para atrair investimentos quanto para não perder competitividade no setor financeiro digital.
Oportunidades e riscos para o Brasil
Para o Brasil, a flexibilização das regras nos Estados Unidos pode ter efeitos diretos e indiretos. De forma positiva, a liberação pode servir de modelo para o aprimoramento da regulação local, promovendo maior segurança jurídica para bancos e fintechs que atuam com criptoativos. O movimento também pode estimular o fluxo de capital estrangeiro para projetos brasileiros do setor, especialmente diante do crescente interesse por infraestrutura de tokenização e pagamentos digitais.
Por outro lado, o aumento da competição por investimentos em criptoativos pode pressionar o Brasil a acelerar sua agenda regulatória. A tramitação de projetos sobre o uso de stablecoins e ativos digitais no país ainda está em andamento, e o Banco Central, por meio do Drex (Real Digital), observa atentamente as movimentações internacionais.
Considerações finais
A decisão do Fed marca um ponto de inflexão na integração entre bancos e criptomoedas. Ao retirar exigências que restringiam a atuação institucional, os Estados Unidos sinalizam que pretendem liderar a próxima fase da economia digital, ao invés de apenas regulamentá-la. A resposta do mercado, até agora positiva, indica que a medida pode ser um catalisador importante para a valorização do Bitcoin e o crescimento do setor como um todo.
Para o Brasil, acompanhar de perto essas mudanças não é apenas uma questão de política regulatória, mas uma oportunidade de inserção estratégica em uma nova arquitetura financeira global.