Sobre o Uso do Dinheiro: Princípios Bíblicos e Aplicações Práticas

Dinheiro, posses e recursos são temas que atravessam a história humana e estão presentes em diversas áreas da vida cristã. No entanto, ao invés de evitar esse assunto — como ocorre em muitos círculos religiosos ou, em contraponto, explorá-lo de forma mercenária — a fé reformada se propõe a lidar com o dinheiro à luz das Escrituras, com equilíbrio, reverência e sabedoria. Este estudo visa resgatar uma visão bíblica e teologicamente sólida sobre o papel do dinheiro na vida do cristão, considerando que ele é um instrumento dado por Deus e, portanto, deve ser administrado com responsabilidade, temor e propósito.


Capítulo 1 – O Dinheiro na Criação e na Queda

1.1 O Dinheiro como Parte da Ordem Criacional

Na perspectiva reformada, todo o cosmos pertence a Deus. Isso inclui os bens materiais, moedas, riquezas e qualquer instrumento de troca que facilite a vida humana. Deus é o Criador e Sustentador de todas as coisas — portanto, tudo o que possuímos provém Dele.

Base Bíblica

“Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.”
Salmo 24:1 (ARA)

Este versículo deixa claro que a propriedade última de todas as coisas é divina. O dinheiro, ainda que criado como uma convenção humana, está inserido dentro da ordem natural da providência de Deus. Ele é um meio — e não um fim — para facilitar a mordomia do homem sobre a criação.

Reflexão Teológica

João Calvino, em seus comentários e sermões, reconhecia o valor prático do dinheiro. Em suas Institutas, ele afirma que as dádivas de Deus, como os bens materiais, devem ser recebidas com gratidão, mas utilizadas com moderação e sabedoria. Calvino entendia o dinheiro como uma ferramenta útil, mas perigosa quando mal administrada ou idolatrada.

“Todas as bênçãos que Deus nos dá são boas, contanto que usemos delas com moderação e com ação de graças.”
(João Calvino, Sermões sobre Deuteronômio)


1.2 A Corrupção do Uso do Dinheiro pela Queda

Com a queda do homem (Gênesis 3), a relação com os bens materiais também foi corrompida. O que antes era instrumento de sustento e cooperação passou a ser motivo de ganância, cobiça e idolatria.

Base Bíblica

“Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.”
1 Timóteo 6:10 (ARA)

Este texto é frequentemente mal interpretado. Ele não condena o dinheiro em si, mas o “amor ao dinheiro” — ou seja, quando ele assume o lugar de Deus no coração humano. O apóstolo Paulo está advertindo contra a idolatria, o desejo desordenado por riquezas que afasta o homem da fé verdadeira.

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”
Mateus 6:24 (ARA)

Jesus, aqui no Sermão do Monte, evidencia a impossibilidade de uma lealdade dividida. O dinheiro não é neutro quando se torna um senhor sobre o coração. Isso ecoa a teologia reformada, que entende o coração humano como inclinado à idolatria após a queda, e o dinheiro como uma das principais alternativas ao senhorio de Cristo.


Conclusão do capítulo 1

Deus criou todas as coisas boas, inclusive o sistema que permite a troca e organização econômica por meio do dinheiro. No entanto, por causa da queda, o coração humano tende a desvirtuar esse bem, transformando-o em fim último. A tradição reformada nos ensina a resgatar o propósito original: o dinheiro como ferramenta de mordomia, serviço e adoração, não como ídolo.

Capítulo 2 – Princípios Bíblicos para o Uso do Dinheiro

2.1 Mordomia e Responsabilidade

A Palavra de Deus apresenta com clareza que o ser humano não é o dono absoluto de nada. Tudo o que temos nos foi confiado. Somos, portanto, mordomos — administradores encarregados de cuidar de bens que pertencem a outro: no caso, ao Senhor.

Base Bíblica

“Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.”
Salmo 24:1 (ARA)

“Agora, pois, ó nosso Deus, graças te damos e louvamos o teu glorioso nome. Porque quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos.”
1 Crônicas 29:13-14 (ARA)

Essas passagens reforçam o princípio de que tudo que possuímos — desde os bens materiais até as habilidades para adquiri-los — vem do Senhor. Não somos proprietários autônomos, mas sim depositários de recursos divinos. Logo, nossa responsabilidade é usar o que temos para fins que honrem o nome de Deus.

Essa administração se estende ao uso sábio dos recursos, à prestação de contas diante de Deus e à consciência de que nossas decisões financeiras têm impacto espiritual.

“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.”
Lucas 16:10 (ARA)

Jesus nos ensina que a fidelidade nas pequenas coisas — incluindo finanças — revela o caráter e o compromisso com os valores do Reino de Deus.


2.2 Generosidade e Justiça Social

A generosidade é uma marca dos que foram alcançados pela graça de Deus. Dar com alegria, repartir o que se tem com os necessitados e contribuir para o avanço do Evangelho são expressões naturais da fé genuína. A Bíblia nos chama a viver com as mãos abertas, sensíveis à necessidade do próximo.

Base Bíblica

“A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado.”
Provérbios 11:25 (ARA)

“Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.”
Gálatas 6:10 (ARA)

“Ordena aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para o nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir.”
1 Timóteo 6:17-18 (ARA)

Estes versículos não tratam apenas de uma atitude, mas de um estilo de vida: generosidade contínua, que reconhece que nossos recursos não são um fim em si mesmos, mas um meio de glorificar a Deus e abençoar os outros. A generosidade é um reflexo da justiça de Deus operando em nós — e uma maneira de demonstrarmos que não estamos presos às riquezas terrenas.


2.3 Contentamento e Dependência de Deus

O coração humano tende a buscar segurança no dinheiro. Mas as Escrituras nos ensinam a viver com contentamento, conscientes de que Deus é o nosso verdadeiro sustento. Ter contentamento é reconhecer que, se temos o necessário, temos o suficiente.

Base Bíblica

“Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes.”
1 Timóteo 6:8 (ARA)

“Não vos desespereis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
Mateus 6:31-33 (ARA)

“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.”
Hebreus 13:5 (ARA)

Jesus nos lembra que a ansiedade por suprimento é incompatível com a fé em um Pai cuidadoso. O contentamento nasce da confiança de que Deus cuida dos Seus filhos. O dinheiro pode falhar, mas Deus nunca falha. A busca desenfreada por riquezas traz inquietação; já a confiança no Senhor produz paz e liberdade.


Conclusão do Capítulo 2

Ser um bom administrador dos recursos que recebemos é uma forma de culto. Ser generoso é um reflexo do caráter de Cristo em nós. E viver contente com o que temos é uma demonstração prática de que nossa confiança não está nas riquezas, mas em Deus. Esses princípios moldam uma vida financeira que glorifica ao Senhor e nos liberta da tirania da ganância e da ansiedade.

3. A Usura e o Empréstimo: ética e limites no uso do dinheiro

3.1 A advertência contra a usura injusta

A Escritura não condena todo tipo de empréstimo ou cobrança de juros, mas sim a prática abusiva e exploradora. A palavra “usura” nas versões mais antigas da Bíblia refere-se justamente a essa cobrança excessiva e opressiva, especialmente contra os pobres e necessitados. Em diversos textos, o Senhor condena essa prática como injustiça social e espiritual.

Base Bíblica

“Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros.”
Êxodo 22:25 (ARA)

“Ao teu irmão não emprestarás com juros, seja dinheiro, seja comida, seja qualquer coisa que se empreste com juros.”
Deuteronômio 23:19 (ARA)

Essas ordens tinham como foco preservar a dignidade do povo de Deus. Em Israel, era comum que pessoas endividadas caíssem em servidão por não conseguirem pagar. Deus, portanto, estabeleceu leis que protegessem os vulneráveis, especialmente os irmãos da fé.

“Aquele que não dá o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado.”
Salmo 15:5 (ARA)

O justo é descrito como aquele que não se aproveita da necessidade do outro para lucrar injustamente. A Bíblia apresenta um ideal de comunidade baseado na misericórdia, e não no lucro a qualquer custo.


3.2 A ética do empréstimo na prática cristã

A Escritura, por outro lado, também reconhece o empréstimo como uma realidade natural da convivência humana, e ensina que ele deve ser feito com justiça, misericórdia e sabedoria.

“Ao que te pede dá, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.”
Mateus 5:42 (ARA)

Jesus nos ensina a viver com generosidade, sem apego às posses. Não se trata de encorajar a irresponsabilidade financeira, mas de mostrar que o amor ao próximo deve estar acima dos lucros.

O livro de Provérbios oferece conselhos práticos sobre o cuidado com empréstimos e garantias:

“Não estejas entre os que se comprometem, e entre os que ficam por fiadores de dívidas; se não tens com que pagar, por que arriscar-se que te tirem até a cama de debaixo de ti?”
Provérbios 22:26-27 (ARA)

Aqui, vemos um chamado à prudência. O mesmo Deus que exige generosidade e compaixão também nos orienta a não agir de forma imprudente ou precipitada, o que pode resultar em ruína pessoal ou familiar.


3.3 Uma análise equilibrada: cobrar juros é sempre errado?

Na história da igreja, muitos entenderam que qualquer cobrança de juros era pecaminosa. No entanto, com o tempo — especialmente a partir do século XVI — essa interpretação passou a ser refinada. O teólogo João Calvino, por exemplo, argumentou que a proibição bíblica aos juros se aplicava aos pobres e aos casos de exploração, não aos contratos justos entre partes capazes e em igualdade.

“[…] é permitido cobrar juros quando o empréstimo é feito a alguém que não se encontra em necessidade e que, mediante acordo voluntário, concorda em uma justa compensação.”
(Comentário de João Calvino sobre Êxodo 22)

Calvino reconhecia que, em uma sociedade comercial e urbana, era inevitável o uso de juros em certas transações. O problema residia no abuso, na injustiça e no enriquecimento às custas do sofrimento alheio.


3.4 Aplicações atuais

Nos dias de hoje, o ensino bíblico permanece relevante. Ainda que vivamos em uma sociedade com instituições bancárias e sistemas econômicos estruturados, o princípio ético permanece: não devemos explorar o necessitado, nem fazer do lucro uma justificativa para a opressão.

Práticas como empréstimos com juros abusivos, dívidas impagáveis, cartões de crédito com taxas extorsivas e financiamentos predatórios são expressões modernas da antiga usura condenada nas Escrituras. O cristão deve buscar caminhos justos e honestos nas suas relações financeiras, lembrando-se sempre das palavras do Senhor:

“Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor o livrará no dia do mal.”
Salmo 41:1 (ARA)


Conclusão do Capítulo 3

A Bíblia ensina que o dinheiro deve servir à justiça, à misericórdia e à prudência. Empréstimos não são proibidos, mas sua prática deve ser guiada pelo amor ao próximo. Devemos fugir da usura, evitar contratos desonestos e buscar sempre promover o bem com os recursos que Deus nos confiou.

4. Dízimos e Ofertas: fundamentos, prática e propósito

4.1 O dízimo antes da Lei

Muitos imaginam que o dízimo foi uma prática criada exclusivamente na Lei mosaica. No entanto, a Escritura mostra que ele já era conhecido e praticado antes da promulgação da Lei no Sinai. Dois episódios são especialmente importantes:

Base Bíblica

“E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo. Abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.”
Gênesis 14:18–20 (ARA)

“Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus; e a pedra que erigi por coluna será a casa de Deus; e de tudo quanto me concederes, certamente te darei o dízimo.”
Gênesis 28:20–22 (ARA)

Abrão (posteriormente Abraão) oferece o dízimo a Melquisedeque espontaneamente, como ato de gratidão e reconhecimento da vitória dada por Deus. Jacó, por sua vez, faz um voto de fidelidade, associando o dízimo à sua caminhada com o Senhor.

Esses relatos mostram que o dízimo, desde o princípio, era uma expressão de adoração e gratidão, não apenas uma imposição legal. Ele envolvia reconhecimento da soberania de Deus sobre todas as coisas e dependência de sua provisão.


4.2 O dízimo na Lei de Moisés

Com a formação da nação de Israel, o dízimo foi formalizado como parte integrante da aliança de Deus com o povo. Ele era destinado ao sustento da tribo de Levi, que não possuía herança territorial, e também era utilizado em celebrações religiosas e ajuda aos pobres.

Base Bíblica

“Todos os dízimos da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do Senhor; santos são ao Senhor.”
Levítico 27:30 (ARA)

“Aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, o serviço da tenda da congregação.”
Números 18:21 (ARA)

“A cada três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita do mesmo ano e os recolherás na tua cidade. Então virá o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro das tuas portas, e comerão e se fartarão, para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em toda obra que as tuas mãos fizerem.”
Deuteronômio 14:28–29 (ARA)

Havia, portanto, três usos principais do dízimo: o sustento da liderança religiosa (levitas e sacerdotes), o culto e festas em honra ao Senhor, e a assistência social. O povo era chamado a dar de forma regular, sistemática e generosa.


4.3 A repreensão em Malaquias

No final do Antigo Testamento, encontramos uma forte exortação de Deus por meio do profeta Malaquias. O povo havia negligenciado o dízimo, e Deus interpreta isso como roubo.

Base Bíblica

“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida.”
Malaquias 3:8–10 (ARA)

A negligência do dízimo era um sintoma de um coração frio e indiferente ao Senhor. A promessa de bênção mostra que Deus responde à fidelidade com generosidade — não como uma barganha, mas como parte da sua aliança com um povo obediente.


4.4 O dízimo no Novo Testamento

No Novo Testamento, a doutrina do dízimo não é descartada, mas assume um tom diferente: não mais sob a obrigação da Lei cerimonial, mas como expressão de graça, voluntariedade e generosidade. A motivação não é legalista, mas espiritual.

Base Bíblica

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.”
Mateus 23:23 (ARA)

Jesus não condena o dízimo, mas denuncia a hipocrisia de quem o pratica sem piedade. O coração deve acompanhar a prática. Dízimo sem justiça é vazio.

“Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”
2 Coríntios 9:7 (ARA)

Aqui Paulo estabelece o princípio da contribuição no Novo Testamento: voluntária, alegre, proporcional e feita com coração sincero. O espírito do dízimo permanece, mas agora sob a luz da graça.


4.5 Propósito das ofertas e aplicações práticas

As ofertas e os dízimos hoje continuam com propósitos semelhantes aos do Antigo Testamento:

  1. Sustento da obra ministerial:
    Pastores, missionários e obreiros são sustentados pela generosidade da igreja. “Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho.”
    1 Coríntios 9:14 (ARA)
  2. Cuidado dos necessitados:
    A igreja é chamada a ser um canal de justiça e misericórdia. “Distribuía-se a cada um, segundo a sua necessidade.”
    Atos 4:35b (ARA)
  3. Expansão do Reino:
    Missões, ensino, materiais, templos, evangelismo — tudo isso requer recursos.

Conclusão Capítulo 4

O dízimo é mais que uma obrigação: é uma resposta de gratidão ao Deus que provê todas as coisas. Ele é uma prática de fé, uma declaração visível de que reconhecemos a soberania de Deus sobre nossas finanças. A oferta cristã, hoje, não é medida por um percentual fixo, mas pelo coração generoso, comprometido e fiel. A bênção não está no valor, mas na disposição de dar.

5. Conselhos para uma Vida Financeira Piedosa: trabalho, prudência e liberdade

5.1 O valor do trabalho diante de Deus

O trabalho não é um castigo, mas um dom. Antes mesmo da queda, Adão foi colocado no jardim do Éden para “cultivar e guardar” (Gênesis 2:15). Deus estabeleceu o trabalho como meio legítimo de provisão, expressão de dignidade e instrumento de serviço ao próximo.

Base Bíblica

“O que furtava, não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.”
Efésios 4:28 (ARA)

Paulo, ao exortar os crentes em Éfeso, ensina que o trabalho é uma via dupla: suprir as próprias necessidades e ser um canal de bênção para outros. Essa é a economia do Reino — trabalho honesto que gera provisão e generosidade.

“Se alguém não quer trabalhar, também não coma.”
2 Tessalonicenses 3:10b (ARA)

Aqui, o apóstolo combate a ociosidade. Deus não recompensa a preguiça. A fé verdadeira produz responsabilidade, e isso inclui empenho e esforço na vida profissional. O trabalho é dignificado quando é feito para a glória de Deus, não apenas pelo salário.


5.2 Prudência, planejamento e contentamento

Além de trabalhar com diligência, somos chamados a administrar com sabedoria o que recebemos. A Bíblia está repleta de conselhos sobre prudência, economia e boa administração.

Base Bíblica

“Os planos bem elaborados levam à fartura; mas o apressado sempre acaba na miséria.”
Provérbios 21:5 (ARA)

Planejar é espiritual. Improvisar sempre, gastar sem controle e não pensar no amanhã é imprudência, não fé. A boa administração começa com organização, orçamento e metas realistas — tudo diante de Deus.

“Na casa do sábio há tesouro precioso e azeite, mas o insensato tudo devora.”
Provérbios 21:20 (ARA)

Guardar, poupar e investir com propósito é sabedoria. O insensato consome tudo o que tem. A prudência financeira nos prepara para tempos difíceis e permite que sejamos mais úteis aos outros.

“Não vos aflijais, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? […] Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
Mateus 6:31,33 (ARA)

Jesus nos lembra que planejamento não é o mesmo que ansiedade. Prudência e contentamento andam juntos. Vivemos com responsabilidade, mas descansamos na providência do Pai.


5.3 Liberdade financeira: entre o consumo e a escravidão

A sociedade moderna incentiva o consumo desenfreado e normaliza o endividamento. Mas a Palavra de Deus alerta para os perigos da escravidão financeira.

Base Bíblica

“O rico domina sobre os pobres; o que toma emprestado é servo do que empresta.”
Provérbios 22:7 (ARA)

A dívida descontrolada rouba a paz, prejudica a generosidade e sufoca o testemunho cristão. Em vez disso, somos chamados à liberdade: viver com menos do que ganhamos, evitar dívidas desnecessárias e contentar-nos com o que Deus já nos deu.

“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.”
Hebreus 13:5 (ARA)

Contentamento não é resignação, mas confiança. Não é falta de ambição, mas fé no Deus que provê. O cristão é livre para viver com simplicidade porque sua segurança está no Senhor, não nos bens.


Conclusão do Capítulo 5

Uma vida financeira piedosa é fruto de uma mente transformada e um coração submisso a Deus. O trabalho é um chamado. A prudência, uma virtude. O contentamento, uma libertação. Quando usamos os recursos de forma sábia, glorificamos a Deus, servimos ao próximo e vivemos livres do jugo da cobiça e da ansiedade.

Conclusão Final: Redimindo a relação com o dinheiro à luz da Palavra

Ao longo deste estudo, vimos que a maneira como lidamos com o dinheiro revela muito sobre o nosso coração. A Escritura nos mostra que o dinheiro, por si só, não é nem bom nem mau — ele é uma ferramenta, um meio pelo qual honramos a Deus ou alimentamos nossos ídolos.

Desde o princípio, Deus nos confiou bens com um propósito: glorificá-lo, cuidar do próximo e administrar com responsabilidade tudo o que nos foi dado. A queda perverteu esse propósito, transformando o dinheiro em objeto de cobiça, orgulho, injustiça e até mesmo idolatria. No entanto, pela renovação do entendimento trazida pela Palavra e pela ação do Espírito Santo, somos chamados a redimir essa área da vida.

Aplicações práticas

  1. Reconheça a soberania de Deus sobre tudo o que você possui.
    Tudo vem dEle e deve voltar para Ele — seja no trabalho, nas economias, nos bens ou nas decisões financeiras. “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.”
    Salmo 24:1 (ARA)
  2. Seja um mordomo fiel.
    Administre com sabedoria os recursos que o Senhor te confiou. Organize, planeje, evite dívidas impensadas e viva com propósito.
  3. Viva com contentamento.
    A suficiência não está no quanto se tem, mas em quem é o seu Deus. “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.”
    Filipenses 4:11 (ARA)
  4. Cultive a generosidade.
    Dê com alegria, não por obrigação, mas como resposta à graça que você recebeu.
    O coração convertido se alegra em contribuir, ajudar e repartir. “Deus ama a quem dá com alegria.”
    2 Coríntios 9:7 (ARA)
  5. Combata a ansiedade com fé.
    O Senhor é fiel e sabe do que você precisa. Ele não falha, não atrasa e não abandona. “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
    Mateus 6:33 (ARA)
  6. Discirna as falsas promessas e os mercadores da fé.
    Rejeite com firmeza toda teologia que transforma Deus em um meio para enriquecer. O evangelho não é uma fórmula de prosperidade terrena, mas de reconciliação com o Pai. “Tende cuidado com os falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.”
    Mateus 7:15 (ARA)

Um convite à fidelidade

Você foi chamado para viver uma vida diferente. Não uma vida determinada pelo consumo, pela ansiedade ou pelo acúmulo, mas uma vida marcada pela confiança em Deus, pela generosidade, pelo contentamento e pela responsabilidade.

Este estudo não é apenas um conjunto de ideias teológicas ou práticas financeiras. É um convite à transformação. Um chamado para que o senhorio de Cristo alcance também suas finanças. Para que o dinheiro, longe de ser um fim em si mesmo, torne-se um meio para glorificar a Deus, abençoar o próximo e crescer em maturidade espiritual.


“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”
Romanos 11:36 (ARA)