Introdução

A escalada do conflito entre Índia e Paquistão em 2025, marcada por trocas de mísseis, ruptura diplomática e ameaça de guerra total, reacende o temor de uma crise com proporções globais. Embora localizado no Sul da Ásia, o confronto envolve duas potências nucleares e impacta diretamente a estabilidade internacional. Para o Brasil, os reflexos vão além da preocupação humanitária: atingem áreas estratégicas como economia, tecnologia, segurança digital e relações exteriores.


Linha do tempo da escalada

22 de abril de 2025

O estopim do conflito foi um atentado em Pahalgam, região da Caxemira indiana, que matou 26 civis. A Índia atribuiu o ataque a militantes do grupo Jaish-e-Mohammed, supostamente apoiados por Islamabad. A tensão, recorrente há décadas, se agravou rapidamente.

23 de abril

A Índia suspendeu o histórico Tratado das Águas do Indo, de 1960, considerado um dos pilares da estabilidade entre os dois países. Além disso, rompeu relações diplomáticas, expulsou o embaixador paquistanês e aumentou sua presença militar na Linha de Controle (LoC).

6 a 8 de maio

A Índia lançou a Operação Sindoor, com ataques cirúrgicos a bases no norte do Paquistão. O Paquistão reagiu com bombardeios aéreos e ataques com drones. Várias cidades na Caxemira enfrentaram evacuações em massa. O número de mortos já passa de 180, incluindo civis.


Conflito regional, efeitos globais

Potências nucleares em rota de colisão

Índia e Paquistão possuem arsenais nucleares ativos, e qualquer escalada descontrolada pode representar um desastre de proporções inéditas. A comunidade internacional teme não apenas o uso de armamento atômico, mas também o colapso de acordos de contenção e a reativação da corrida armamentista na Ásia.

Além disso, ambos os países desempenham papéis importantes na política global: a Índia é membro do BRICS e mantém laços com os EUA e a União Europeia, enquanto o Paquistão é tradicional aliado da China e de potências do Golfo.


Impactos no Brasil: riscos e oportunidades

Apesar de distante, o Brasil será, direta ou indiretamente, afetado por essa instabilidade. A seguir, destacamos os principais vetores de impacto.


1. Comércio exterior e segurança alimentar

A Índia é um dos principais parceiros comerciais do Brasil na Ásia. Em 2024, o país foi o 11º maior destino das exportações brasileiras, principalmente de:

  • Soja;
  • Minério de ferro;
  • Óleo bruto;
  • Carnes;
  • Açúcar.

Se a Índia entrar em recessão ou redirecionar seus recursos para fins militares, a demanda por essas commodities pode cair, prejudicando o agronegócio brasileiro.

Outro ponto sensível é a importação de fertilizantes e princípios ativos para medicamentos, setores nos quais Índia e Paquistão são protagonistas. Uma interrupção no fornecimento poderia elevar preços e comprometer a produção agrícola nacional.


2. Choque nos combustíveis e inflação

Conflitos armados pressionam os mercados de energia. Um conflito intenso no Sul da Ásia pode:

  • Elevar os preços do petróleo, já que os países produtores ficam mais cautelosos com suas reservas;
  • Aumentar o custo do transporte marítimo, afetando a logística global;
  • Gerar efeitos inflacionários no Brasil, especialmente sobre alimentos, combustíveis e insumos agrícolas.

O Banco Central brasileiro pode ser forçado a rever metas de juros e inflação caso o conflito se prolongue ou se expanda.


3. Reposicionamento geopolítico do Brasil

O Brasil terá de calibrar sua política externa com cautela. Como membro dos BRICS, manter neutralidade diplomática pode se tornar um desafio, principalmente se a Índia solicitar apoio político ou técnico. Além disso:

  • Um realinhamento entre Índia e aliados ocidentais pode fortalecer o bloco EUA-Índia, pressionando o Brasil a adotar novas posturas;
  • O conflito pode gerar espaço para o Brasil assumir papel de mediador em negociações internacionais, aumentando seu protagonismo diplomático;
  • O Itamaraty terá que lidar com possíveis pressões de aliados árabes e do Ocidente, em um ambiente de polarização crescente.

4. Riscos cibernéticos e guerra híbrida

A atual guerra entre Índia e Paquistão já extrapolou o campo militar tradicional. Ambas as nações vêm empregando ferramentas de:

  • Guerra cibernética (ataques a bancos, sistemas elétricos e aeroportos);
  • Propaganda digital e manipulação de redes sociais;
  • Espionagem tecnológica.

Especialistas alertam que grupos cibernéticos podem atingir países terceiros como parte de suas estratégias ou por efeito colateral. O Brasil, com infraestrutura digital ainda vulnerável, pode se tornar alvo fácil de:

  • Ciberataques automatizados com vírus, ransomware e malware;
  • Tentativas de desestabilização de instituições por meio de desinformação;
  • Roubo de dados estratégicos, especialmente em setores bancários e governamentais.

5. Setor de tecnologia: ameaça e janela de oportunidade

A Índia é considerada um dos maiores polos de tecnologia do mundo, com milhares de desenvolvedores, engenheiros e empresas de outsourcing que atendem clientes globais — inclusive brasileiros. Com a guerra:

  • Startups brasileiras que utilizam serviços indianos podem enfrentar atrasos e perda de suporte técnico;
  • O mercado global de tecnologia pode se desorganizar, criando escassez de soluções e serviços;
  • Por outro lado, o Brasil pode atrair investimentos externos que procurem países estáveis como alternativa à Índia e ao Paquistão.

Conclusão: o Brasil precisa estar atento

O conflito entre Índia e Paquistão em 2025 é uma crise internacional com consequências que vão além do Sul da Ásia. Para o Brasil, o momento exige preparação e resposta estratégica.

O país deve reforçar sua segurança cibernética, revisar políticas de comércio exterior, planejar respostas econômicas à possível alta de combustíveis e adotar uma diplomacia firme, porém equilibrada.

Mais do que acompanhar à distância, o Brasil precisa compreender que, em um mundo interconectado, nenhuma crise está realmente longe.