Uma pesquisa inovadora do Projeto Nakamoto, uma organização sem fins lucrativos dedicada à educação sobre Bitcoin, revelou uma mudança radical na atitude dos americanos em relação às moedas digitais. A pesquisa, realizada entre fevereiro e meados de março de 2025, constatou que 80% dos americanos apoiam a conversão de parte das reservas de ouro dos EUA em Bitcoin, sinalizando uma crescente aceitação das criptomoedas como reserva legítima de valor em nível nacional. Essa descoberta, detalhada em um relatório divulgado em 20 de maio de 2025, ressalta uma divisão geracional e levanta questões sobre o futuro da política monetária em um mundo cada vez mais digital.
Destaques da pesquisa: Uma nação pronta para a mudança
O Projeto Nakamoto entrevistou 3.345 americanos, criteriosamente selecionados para refletir a distribuição do Censo dos EUA por idade, gênero, raça, renda, escolaridade e geografia. Os entrevistados responderam a uma pergunta simples, porém provocativa: “Supondo que os Estados Unidos estivessem pensando em converter parte de suas reservas de ouro em Bitcoin, qual porcentagem você recomendaria a conversão?”. Usando um controle deslizante para escolher entre 0% e 100%, a mediana de respostas ficou em 10%, com a maioria dos participantes favorecendo uma taxa de conversão entre 1% e 30%.
Troy Cross, cofundador do Projeto Nakamoto, observou que os entrevistados estavam surpreendentemente relutantes em optar por uma alocação de 0% em Bitcoin. “Nós também ficamos surpresos, mas os resultados são os resultados”, disse Cross em um comunicado. “Quando tiveram a opção, as pessoas hesitaram em se ater a 100% em ouro. A maioria se fixou em torno de 10% em Bitcoin, demonstrando um claro apetite por diversificação.”
A metodologia da pesquisa, administrada pela Qualtrics com participantes remunerados, buscou representatividade, mas recebeu algumas críticas. Jan Wüstenfeld, pesquisador principal da Melanion GreenTech, considerou o design das perguntas com controles deslizantes “infeliz”, argumentando que pode ter induzido os respondentes a alocações diferentes de zero. Apesar disso, Cross defendeu a abordagem, enfatizando que os resultados refletem uma mudança mais ampla no sentimento público.
Uma mudança geracional: jovens americanos lideram o movimento
Uma das descobertas mais marcantes da pesquisa é a diferença geracional. Os americanos mais jovens, especialmente aqueles com menos de 35 anos, demonstraram um apoio significativamente maior à conversão de parcelas maiores de suas reservas de ouro em Bitcoin. Em contraste, os entrevistados mais velhos se inclinaram a manter suas reservas tradicionais de ouro. Essa tendência se alinha a dados mais amplos que mostram que as gerações mais jovens são mais propensas a possuir ou investir em criptomoedas.
Dennis Porter, cofundador do Satoshi Action Fund, comentou no X: “Os americanos simplesmente não se importam tanto com ouro, e a maioria é naturalmente inclinada à diversificação”. Esse sentimento ecoa uma crescente desconfiança nos sistemas financeiros tradicionais entre os grupos demográficos mais jovens, que veem a natureza descentralizada e finita do Bitcoin como uma proteção contra a inflação e o controle centralizado.
Bitcoin como Reserva Nacional: Uma Proposta Ousada
A ideia do Bitcoin como ativo de reserva não é nova, mas sua popularidade é. Os EUA detêm atualmente 8.133 toneladas de ouro, avaliadas em mais de US$ 830 bilhões, em comparação com modestos 207.189 BTC, avaliados em aproximadamente US$ 22 bilhões. Propostas de diversificação para Bitcoin ganharam força política, com figuras como a senadora Cynthia Lummis defendendo a Lei Bitcoin de 2025, que designaria o Bitcoin como um recurso nacional estratégico. O Secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., também sugeriu a combinação das reservas de ouro dos EUA com Bitcoin, uma medida que poderia remodelar a estratégia financeira do país.
O presidente Donald Trump apoiou publicamente essa mudança, apresentando o Bitcoin como uma ferramenta para posicionar os EUA como líderes em finanças digitais. No X, publicações de contas como @BingXOfficial especularam que o Bitcoin poderia desafiar o domínio do ouro como ativo de reserva, especialmente porque seu preço continua a superar o do ouro em 2025.
Analistas do JPMorgan observaram o crescente apelo do Bitcoin, prevendo que “catalisadores específicos para criptomoedas” impulsionarão seu crescimento em relação ao ouro nos próximos meses. Eles apontam a crescente adoção institucional do Bitcoin, incluindo a aprovação pela SEC de ETFs de Bitcoin à vista em 2024, como evidência de seu papel maduro no mercado financeiro.
Por que Bitcoin? Entendendo o Apelo
O Bitcoin, lançado em 2008 pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto, foi projetado como um sistema de dinheiro eletrônico descentralizado ponto a ponto. Seu suprimento fixo de 21 milhões de moedas e a transparência baseada em blockchain o tornam uma alternativa atraente às moedas fiduciárias e aos ativos tradicionais como o ouro, que dependem de controle centralizado. Uma pesquisa publicada na Financial Innovation destaca a dupla natureza do Bitcoin: um ativo especulativo, impulsionado pelo sentimento do investidor, e um ativo de refúgio, com correlações negativas com certas classes de ativos durante turbulências do mercado.
Ao contrário do ouro, que há muito tempo é um alicerce da estabilidade financeira, o Bitcoin oferece vantagens únicas: baixas taxas de transação, transferências sem fronteiras e proteção contra a inflação causada pela impressão descontrolada de dinheiro. No entanto, sua volatilidade e os altos custos de energia para mineração — 1.825 kWh por Bitcoin, equivalente a 63 dias de consumo de energia residencial nos EUA — continuam sendo pontos de discórdia.
Ceticismo e Desafios
Nem todos estão convencidos. Críticos do X e do meio acadêmico questionaram a pesquisa do Projeto Nakamoto, sugerindo que ela pode superestimar o apelo do Bitcoin devido à sua estrutura. Alguns argumentam que a natureza tangível do ouro e seu histórico secular como reserva de valor o tornam insubstituível. Outros apontam a volatilidade do Bitcoin e as incertezas regulatórias como barreiras à sua adoção como ativo de reserva.
Estudos acadêmicos, como o da Frontiers in Finance , observam que o preço do Bitcoin é fortemente influenciado pela incerteza da política econômica global e pelos preços do petróleo, com efeitos assimétricos que o tornam uma aposta arriscada para as reservas nacionais. No entanto, o mesmo estudo reconhece a ligação positiva do Bitcoin com choques no preço do ouro, sugerindo que ele poderia complementar, em vez de substituir, o ouro.
O caminho a seguir: um futuro monetário digital?
As descobertas do Projeto Nakamoto surgem em um momento em que estados como o Arizona estão experimentando reservas de ativos digitais e empresas como a MicroStrategy (agora Strategy) e a japonesa Metaplanet estão aumentando suas reservas em Bitcoin. Essa tendência, aliada ao apoio público, sugere que o papel do Bitcoin nas finanças nacionais e corporativas está apenas começando a tomar forma.
Enquanto os EUA lutam contra uma dívida nacional superior a US$ 33 trilhões e crescentes preocupações com a estabilidade do dólar a longo prazo, o fascínio do Bitcoin como “ouro digital” está ganhando força. Resta saber se ele realmente poderá rivalizar com o domínio histórico do ouro, mas uma coisa é certa: os americanos, especialmente a geração mais jovem, estão prontos para abraçar um futuro em que os ativos digitais desempenham um papel central na estratégia monetária do país.
Para mais informações sobre a pesquisa do Projeto Nakamoto, visite www.thenakamotoproject.org