Nova regra pode obrigar fintechs a abandonar o nome que construiu sua reputação. Consumidores correm risco ou é proteção disfarçada?

Uma bomba regulatória caiu sobre o universo das fintechs brasileiras. O Banco Central do Brasil quer proibir empresas que não são bancos de usarem palavras como “bank” ou “banco” em seus nomes e marcas — uma medida que, se aprovada, pode mudar radicalmente o ecossistema financeiro digital do país.

Nomes gigantes como Nubank, C6 Bank, Will Bank e PagBank estão no centro dessa nova polêmica. Em jogo está muito mais do que um nome bonito ou moderno: é uma batalha por credibilidade, mercado e, acima de tudo, a confiança do consumidor.

A medida que ameaça desmontar a identidade das fintechs

No fim de abril, o Banco Central abriu uma consulta pública com uma proposta clara: impedir que empresas que não são bancos de fato utilizem termos que remetam a instituições bancárias. Isso inclui o popular sufixo “bank”, que virou sinônimo de inovação e modernidade.

O argumento da autarquia é direto: evitar confusão no consumidor. Segundo o BC, muitos brasileiros acreditam estar contratando serviços de um banco tradicional, com todas as garantias e regulações que isso implica — quando, na verdade, estão lidando com instituições de pagamento ou sociedades de crédito direto, sujeitas a regras bem mais flexíveis.

O que o Nubank, C6 e outros têm a ver com isso?

Embora o Nubank tenha licenças específicas através da Nu Financeira, ele opera principalmente como uma instituição de pagamento. Já o C6 Bank é um banco múltiplo autorizado, mas o debate esbarra em como as marcas se apresentam comercialmente. O PagBank também têm estrutura mista, com autorizações diferentes em diferentes partes de suas operações.

No entanto, muitos deles constroem suas marcas em cima do termo “bank”, e a dúvida que surge é: serão obrigados a mudar de nome?

Se a proposta for aprovada como está, é possível — e até provável — que esses nomes tenham que ser rebatizados, ajustados ou reestruturados, o que pode gerar prejuízos milionários em rebranding, perda de reconhecimento e confusão entre os próprios usuários.

A indústria reage: censura disfarçada de proteção?

Empresas e especialistas do setor financeiro reagiram com preocupação. Para eles, a medida é desproporcional e pode ser vista como uma forma de censura comercial disfarçada de proteção ao consumidor.

“É como se o governo dissesse que chamar uma sorveteria de ‘gelato’ engana o cliente porque não é um sorvete ‘tradicional’. É um absurdo regulatório”, disse um executivo de uma das fintechs afetadas, que pediu anonimato.

Há ainda quem veja a proposta como uma tentativa de proteger os grandes bancos tradicionais da concorrência feroz das fintechs, que ganharam mercado nos últimos anos com serviços digitais, menos burocráticos e, muitas vezes, gratuitos.

Os consumidores estão realmente em risco?

A resposta depende de como se interpreta o papel dessas empresas. Fintechs como Nubank e Will Bank operam sob a fiscalização do Banco Central e seguem normas rigorosas. No entanto, não são cobertas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em todas as modalidades, o que pode gerar riscos se o cliente não souber exatamente onde está colocando seu dinheiro.

A proposta do BC tenta jogar luz sobre essa diferença, mas corre o risco de apagar o brilho de um setor que tem levado bancarização e inovação a milhões de brasileiros, especialmente os menos favorecidos.

Campos Neto entra no jogo — e do lado das fintechs

Como se a novela não fosse complexa o suficiente, o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi anunciado como o novo vice-presidente do Nubank. A contratação, marcada para julho de 2025 após o cumprimento da quarentena, é vista como uma jogada estratégica para enfrentar esse novo cenário regulatório.

Com trânsito livre entre Brasília e o setor privado, Campos Neto deve ser o principal articulador político e regulatório da empresa nos bastidores, podendo influenciar os rumos dessa disputa.

O futuro das marcas digitais está em jogo

Essa proposta do Banco Central pode marcar um divisor de águas no setor financeiro brasileiro. Se aprovada, poderá mudar os nomes e a identidade de empresas que dominam o mercado digital.

Para as fintechs, será o momento de provar se a inovação está apenas no nome ou na essência do serviço. Para os consumidores, restará a pergunta: estamos sendo protegidos ou privados de uma nova geração de serviços financeiros?

A guerra do “bank” está declarada — e seus desdobramentos podem mudar a cara do dinheiro no Brasil.