Introdução: Um país sob pressão

O Brasil amanheceu em 02/06/2025 com uma tríade de notícias que abalam a confiança do mercado: a agência Moody’s rebaixou a perspectiva do país de “positiva” para “estável”, a China anunciou um boicote às importações de produtos avícolas brasileiros devido à gripe aviária, e o presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou o aumento das tarifas sobre aço e alumínio de 25% para 50%. Como se não bastasse, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou na semana passada que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é inevitável para evitar o colapso das contas públicas. Mas o que essas peças do quebra-cabeça econômico significam para o Brasil? Estamos à beira de uma nova crise? Este artigo investiga os fatos, conecta os pontos e questiona o futuro da economia brasileira.


Moody’s: O alerta vermelho para a política fiscal

Por que a Moody’s mudou a perspectiva do Brasil?

Na sexta-feira, 30/05/2025, a Moody’s reafirmou a nota de crédito soberana do Brasil em “Ba1”, mas alterou a perspectiva de “positiva” para “estável”. A justificativa? Uma deterioração na capacidade de pagamento da dívida e um progresso lento na resolução da rigidez orçamentária. Em termos simples, o Brasil não está conseguindo equilibrar suas contas públicas, e a agência vê menos chances de o país recuperar o grau de investimento no curto prazo.

O peso da rigidez fiscal

A Moody’s apontou que o Brasil enfrenta dificuldades para conter gastos obrigatórios, como previdência e folha de pagamento, que consomem grande parte do orçamento. Em 2024, segundo o Tesouro Nacional, os gastos obrigatórios representaram cerca de 90% do orçamento federal, deixando pouco espaço para investimentos ou ajustes. A agência também criticou a falta de credibilidade na política fiscal, um problema que se agravou com as idas e vindas do governo sobre o aumento do IOF.

O que isso significa para os investidores?

A mudança na perspectiva da Moody’s não é um rebaixamento formal, mas acende um alerta. Investidores estrangeiros, já cautelosos com o Brasil, podem reduzir ainda mais suas apostas no país. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, já sentiu o impacto: na manhã de 02/06/2025, caiu 0,8% logo após a abertura, refletindo a incerteza. A confiança abalada pode elevar o custo de captação de recursos no exterior, pressionando ainda mais o câmbio e a inflação.


China e o boicote avícola: Um golpe no agronegócio

O que motivou o boicote da China?

Após a detecção de um novo caso de gripe aviária no Brasil, a China, maior compradora de carne de frango brasileira, anunciou a proibição de importações de produtos avícolas na noite de 30/05/2025. O comércio bilateral nesse setor movimentou mais de US$ 1 bilhão em 2024, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A decisão chinesa, embora justificada por questões sanitárias, levanta suspeitas de retaliação comercial em meio às tensões globais desencadeadas pelas tarifas de Trump.

Impacto nas exportações e no mercado interno

O boicote deve atingir diretamente empresas como JBS, BRF e Marfrig, que têm, respectivamente, 2,11%, 0,78% e 0,28% de peso no Ibovespa. Apesar do peso limitado no índice, o impacto econômico é significativo: o Brasil exportou 4,8 milhões de toneladas de frango em 2024, com a China respondendo por 15% desse volume. Com a suspensão, frigoríficos podem enfrentar queda de receita e pressão para redirecionar exportações a outros mercados, como o Oriente Médio, onde a competição é acirrada.

No mercado interno, a oferta excedente de carne de frango pode derrubar os preços, beneficiando consumidores, mas prejudicando produtores. “Se a China mantiver o boicote por mais de três meses, veremos uma crise no setor avícola, com demissões e fechamento de granjas”, alerta Ricardo Santin, presidente da ABPA, em entrevista à Reuters.

Há risco de retaliação política?

Especialistas especulam que o boicote pode ter motivações além da gripe aviária. A China, que enfrenta tarifas elevadas de Trump, pode estar sinalizando descontentamento com parceiros comerciais que não se posicionam contra as políticas protecionistas dos EUA. O Brasil, que evitou retaliar diretamente as tarifas americanas, pode estar pagando o preço dessa neutralidade.


Trump e o tarifaço: Aço e alumínio sob fogo

O que mudou com as tarifas de Trump?

Em 30/05/2025, Trump anunciou que as tarifas sobre aço e alumínio importados pelos EUA subirão de 25% para 50%, a partir de 04/06/2025. O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, com US$ 5,7 bilhões em vendas em 2024, será um dos mais afetados. O alumínio, com US$ 267,1 milhões exportados, também sentirá o impacto.

Efeitos na indústria siderúrgica

Empresas como CSN, Usiminas e Gerdau, grandes exportadoras de aço, já registraram quedas em suas ações na bolsa brasileira. Na manhã de 02/06/2025, as ações da CSN caíram 3,2%, enquanto as da Gerdau recuaram 2,8%. Segundo a Câmara de Comércio Brasil-EUA, as tarifas podem reduzir em até 30% as exportações brasileiras de aço, gerando perdas de US$ 1,8 bilhão anuais.

Além disso, as tarifas de Trump desencadearam uma onda de boicotes internacionais a produtos americanos, com países como Canadá e membros da União Europeia promovendo campanhas de “compre local”. Isso pode abrir oportunidades para o Brasil em novos mercados, mas a diversificação exige tempo e investimentos, algo que o setor siderúrgico, já pressionado, pode não ter.

Risco de desemprego e recessão

O Brasil de Fato estima que as tarifas podem levar à perda de 200 mil empregos diretos e indiretos no setor de transformação, que inclui aço e alumínio. A redução da demanda externa pode forçar empresas a cortar custos, aumentando o desemprego e pressionando a economia doméstica. “Estamos falando de um efeito dominó: menos exportações, menos receita, menos empregos”, explica Leonardo Trevisan, professor da ESPM.


Haddad e o IOF: A corda no pescoço fiscal

O que disse Haddad sobre o IOF?

Na semana passada, em 29/05/2025, Fernando Haddad afirmou que o aumento do IOF é “inevitável” para cumprir compromissos fiscais e evitar um colapso das contas públicas. “Não há alternativa no momento”, disse o ministro, alertando que a revogação do aumento poderia levar a um “patamar delicado” para a máquina pública. A declaração veio em meio a pressões do Congresso, onde o presidente da Câmara, Hugo Motta, sinalizou que o “clima é para derrubada” do decreto, exigindo um plano alternativo em 10 dias.

Por que o IOF é tão polêmico?

O aumento do IOF, que incide sobre operações como crédito, câmbio e seguros, eleva o custo de financiamentos e transações financeiras. Em um país onde 60% das famílias estão endividadas, segundo a CNC, isso pode frear o consumo e o investimento. Críticos, como o economista Ecio Costa, argumentam que o IOF não resolve o problema fiscal estrutural e pode dobrar o custo do crédito, aprofundando a desaceleração econômica.

Por outro lado, Haddad defende que o imposto é uma medida temporária para cobrir o déficit primário, que atingiu R$ 182 bilhões em 2024, segundo o Banco Central. A resistência do Congresso, no entanto, expõe a fragilidade política do governo, que enfrenta dificuldades para aprovar reformas estruturais, como a tributária.

O governo está encurralado?

A fala de Haddad revela um governo acuado. Sem avanços significativos na contenção de gastos obrigatórios, o aumento do IOF é visto como um paliativo que não ataca a raiz do problema.


Conexões e impactos: O Brasil está à beira da crise?

Como esses eventos se conectam?

A rebaixa da Moody’s, o boicote da China, as tarifas de Trump e a polêmica do IOF formam uma tempestade perfeita. A deterioração fiscal apontada pela Moody’s reduz a atratividade do Brasil para investidores, enquanto o boicote chinês e as tarifas americanas cortam receitas de exportação, pressionando o câmbio. O dólar, que flertou com R$ 5,91 em abril, pode ultrapassar R$ 6 com a escalada das tensões comerciais. O aumento do IOF, por sua vez, encarece o crédito e desestimula o consumo, em um momento em que a economia já cresce lentamente (1,8% em 2024, segundo o IBGE).

Quais os riscos de uma crise?

O Brasil não está em uma crise iminente, mas os sinais são preocupantes. A combinação de menor confiança externa, redução de exportações e aumento da carga tributária pode levar a uma estagnação econômica. A inflação, que fechou 2024 em 4,5%, pode subir com a pressão do dólar e do IOF, forçando o Banco Central a elevar a Selic. Isso encareceria ainda mais o crédito, afetando empresas e consumidores.

Há espaço para otimismo?

Nem tudo é desolador. O governo brasileiro está negociando com China e União Europeia para diversificar exportações, e o vice-presidente Geraldo Alckmin se reuniu com o ministro chinês Wang Wentao para mitigar os impactos do boicote avícola. Além disso, a suspensão temporária de algumas tarifas de Trump, bloqueada por um tribunal americano, pode dar um alívio momentâneo. No entanto, sem reformas fiscais estruturais, essas medidas são apenas curativos em uma ferida profunda.


Conclusão: Um futuro incerto

O Brasil enfrenta um momento delicado. A rebaixa da Moody’s expõe fragilidades fiscais, o boicote chinês ameaça o agronegócio, as tarifas de Trump abalam a indústria, e o aumento do IOF reflete a falta de alternativas do governo. A pergunta que fica é: o Brasil conseguirá evitar uma crise? A resposta depende de reformas estruturais, diplomacia comercial e, acima de tudo, da capacidade do governo de recuperar a confiança do mercado e da sociedade. Por enquanto, o país caminha na corda bamba, e qualquer passo em falso pode custar caro.