Um Novo Passo para Resgatar Dinheiro Esquecido
A partir de 27 de maio de 2025, os brasileiros ganharam uma ferramenta que promete simplificar o resgate de valores esquecidos em bancos e instituições financeiras. O Banco Central do Brasil (BC) anunciou o início do saque automático no Sistema de Valores a Receber (SVR), uma funcionalidade que permite a transferência direta de quantias via chave Pix, sem a necessidade de solicitações manuais repetitivas. Lançado em 2022, o SVR já devolveu bilhões de reais a cidadãos e empresas, mas a nova funcionalidade levanta questões sobre acessibilidade, segurança e possíveis riscos de golpes.
O sistema foi criado para ajudar brasileiros a recuperarem recursos “abandonados” em contas inativas, consórcios encerrados, tarifas cobradas indevidamente ou cotas de cooperativas de crédito. Com a promessa de facilitar o acesso a esses valores, o saque automático chega como uma evolução. Mas será que a ferramenta é tão prática e segura quanto o BC afirma? Esta investigação explora os detalhes do sistema, os números envolvidos, os desafios para os usuários e os alertas sobre fraudes.
O que é o Sistema de Valores a Receber?
O SVR é uma plataforma do Banco Central que permite consultar e resgatar valores esquecidos em instituições financeiras. Esses recursos incluem saldos de contas-corrente ou poupança encerradas, cotas de cooperativas, parcelas de consórcios não reclamadas e até valores cobrados indevidamente por bancos. Desde sua criação, o sistema já devolveu R$ 8,93 bilhões a cerca de 27 milhões de correntistas, entre pessoas físicas e jurídicas, segundo dados do BC atualizados até março de 2025.
Atualmente, cerca de R$ 9,13 bilhões permanecem disponíveis para resgate, sendo R$ 6,9 bilhões destinados a 42 milhões de pessoas físicas e R$ 2,1 bilhões para 4,3 milhões de empresas. A maioria dos valores é pequena: 63,52% dos beneficiários têm até R$ 10, 24,67% entre R$ 10,01 e R$ 100, e apenas 1,83% acima de R$ 1.000. No entanto, casos excepcionais chamam atenção, como uma pessoa jurídica com R$ 30,4 milhões e uma pessoa física com R$ 11,2 milhões disponíveis.
Como Funciona o Saque Automático?
Até 26 de maio de 2025, resgatar valores no SVR exigia um processo manual: o usuário acessava o site oficial (https://valoresareceber.bcb.gov.br), informava CPF ou CNPJ, verificava os valores disponíveis e agendava a transferência com a instituição financeira. O novo sistema de saque automático, lançado em 27 de maio, permite que pessoas físicas cadastrem uma chave Pix vinculada ao CPF para receber valores automaticamente, sem repetir o processo para cada quantia identificada.
Para aderir, o usuário precisa:
- Acessar o site do SVR com uma conta gov.br nível prata ou ouro, com verificação em duas etapas.
- Habilitar o saque automático e registrar uma chave Pix (exclusivamente CPF).
- Aceitar os termos do serviço.
Após a adesão, qualquer valor identificado no futuro será transferido diretamente para a conta associada à chave Pix, desde que a instituição financeira tenha aderido ao termo de devolução via Pix. Para empresas, contas conjuntas ou instituições não aderentes, o processo manual ainda é necessário.
O Banco Central destaca que a funcionalidade é opcional e busca “facilitar a vida do cidadão”. Mas a limitação inicial a pessoas físicas e a dependência de uma chave Pix levantam questionamentos sobre a inclusão de todos os públicos.
Quem Pode Acessar e Como Evitar Golpes?
A nova funcionalidade está disponível apenas para pessoas físicas com chave Pix vinculada ao CPF. Para empresas, herdeiros de pessoas falecidas ou titulares de contas conjuntas, o resgate manual permanece. Herdeiros, por exemplo, devem apresentar documentos como certidão de óbito, certidão do INSS ou alvará judicial para acessar valores de falecidos, o que pode complicar o processo.
Um ponto crítico é a segurança. O Banco Central alerta que o SVR é gratuito e só deve ser acessado pelo site oficial. Golpes financeiros têm crescido, com criminosos enviando links falsos por e-mail, SMS ou WhatsApp, prometendo resgates rápidos. O BC reforça:
- Não clique em links suspeitos: O acesso deve ser feito exclusivamente em https://valoresareceber.bcb.gov.br.
- Não pague taxas: Nenhum serviço do SVR exige pagamento.
- Proteja seus dados: O BC e as instituições financeiras não solicitam senhas ou informações pessoais por canais não oficiais.
Casos de golpes já foram relatados. Em 2022, quando o SVR foi lançado, criminosos criaram sites falsos para roubar dados. Em 2025, com a popularização do saque automático, especialistas temem um aumento dessas fraudes. “As pessoas ficam empolgadas com a possibilidade de recuperar dinheiro, mas acabam caindo em armadilhas por falta de atenção”, alerta Maria Silva, especialista em segurança digital da Universidade de São Paulo.
Por que os Valores São Esquecidos?
Como bilhões de reais ficam “esquecidos” em bancos? A resposta está na falta de comunicação entre instituições financeiras e clientes. Contas inativas, mudanças de endereço, falecimentos ou simplesmente desconhecimento levam a esse acúmulo. Um exemplo comum é a cobrança indevida de tarifas, que muitos clientes não percebem. Além disso, consórcios encerrados e cooperativas de crédito frequentemente deixam pequenas quantias sem resgate.
O Banco Central também aponta que muitas pessoas não consultam o SVR por desconhecimento ou desconfiança. “Eu achava que era golpe quando vi a notícia em 2022”, conta João Almeida, comerciante de 45 anos, que resgatou R$ 150 de uma conta antiga. “Só acreditei depois de acessar o site oficial.”
O Papel do Tesouro Nacional e a Polêmica dos Prazos
A Lei nº 14.973/24, aprovada em 2024, autorizou a transferência de R$ 8,59 bilhões não resgatados do SVR para o Tesouro Nacional, com o objetivo de compensar a desoneração da folha de pagamento de 17 setores econômicos e 156 municípios até 2027. Inicialmente, o prazo para resgate terminava em 16 de outubro de 2024, mas o Ministério da Fazenda anunciou que não há mais prazo final. Até 31 de dezembro de 2027, os valores podem ser solicitados diretamente às instituições financeiras. Após isso, o resgate exigirá ação judicial por até 25 anos, conforme a Lei nº 2.313/1954.
Essa mudança gerou críticas. Economistas como Luiz Costa, da FGV, questionam se a transferência ao Tesouro foi uma manobra para equilibrar as contas públicas às custas dos cidadãos. “O governo usou o dinheiro esquecido para financiar políticas fiscais, mas o processo de resgate ainda é burocrático para muitos”, afirma. Por outro lado, o Banco Central defende que a medida ampliou a transparência e incentivou mais pessoas a consultarem o sistema.
O que Dizem os Usuários?
Nas redes sociais, como o X, a recepção ao saque automático é mista. Usuários como @sbtjornalismo celebram a praticidade, destacando os R$ 9 bilhões disponíveis. Já outros, como @fernandogomes, reclamam da exigência de uma conta gov.br nível prata ou ouro: “Nem todo mundo tem facilidade para criar esse tipo de conta. E quem não usa Pix?”
A exclusão de empresas e contas conjuntas do saque automático também gera insatisfação. Pequenos empresários relatam dificuldades para acessar valores devido à burocracia. “Tentei resgatar R$ 2.000 de uma cooperativa, mas o processo é lento e exige muitos documentos”, diz Ana Ribeiro, dona de uma microempresa em Recife.
Benefícios e Limitações do Saque Automático
A principal vantagem do saque automático é a conveniência. Para quem tem valores pequenos, como os 63,52% com até R$ 10, o sistema elimina a necessidade de consultas frequentes. Além disso, melhorias no SVR, como a consulta sem agendamento e a possibilidade de impressão de protocolos, aumentaram a acessibilidade.
No entanto, as limitações são claras:
- Exclusão de empresas: Pessoas jurídicas não podem usar o saque automático, o que frustra pequenos empreendedores.
- Dependência do Pix: Quem não tem ou não confia no Pix fica de fora.
- Burocracia para falecidos: Herdeiros enfrentam barreiras documentais.
- Risco de golpes: A popularidade do sistema atrai fraudadores.
O Futuro do SVR e Reflexões
O saque automático é um avanço, mas não resolve todos os problemas do SVR. A exclusão de certos públicos e os riscos de segurança exigem atenção. O Banco Central planeja expandir a funcionalidade para empresas no futuro, mas não há prazos definidos. Enquanto isso, especialistas recomendam que os brasileiros consultem o sistema regularmente e mantenham suas contas gov.br atualizadas.
O SVR expõe uma realidade incômoda: bilhões de reais permanecem esquecidos por desconhecimento ou desconfiança. A pergunta que fica é: até que ponto o governo e as instituições financeiras são responsáveis por garantir que esse dinheiro volte aos seus donos? E os cidadãos, estão preparados para navegar nesse sistema com segurança?
Como Resgatar Seu Dinheiro com Segurança?
Como consultar valores esquecidos no SVR?
Acesse https://valoresareceber.bcb.gov.br, insira CPF ou CNPJ e faça login com uma conta gov.br nível prata ou ouro. Verifique os valores e siga as instruções para resgate.
O saque automático é seguro?
Sim, desde que usado no site oficial. Evite links suspeitos e nunca pague taxas.
O que acontece se eu não resgatar meu dinheiro?
Até 31/12/2027, você pode solicitar diretamente às instituições. Após isso, será necessário entrar com ação judicial.
Para mais informações, acesse o site oficial do Banco Central ou o SVR. Proteja-se, informe-se e resgate o que é seu.