Introdução

O mercado de criptomoedas enfrentou um forte abalo em 23 de maio de 2025, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar, por meio de sua plataforma Truth Social, uma tarifa de 50% sobre todas as importações da União Europeia (UE), com início previsto para 1º de junho de 2025. Além disso, Trump ameaçou impor um imposto de 25% sobre produtos da Apple fabricados fora dos EUA, intensificando temores de uma guerra comercial global. A medida provocou uma onda de aversão ao risco, impactando mercados de ações, commodities e, especialmente, criptomoedas. Apesar da queda imediata, analistas apontam que a natureza descentralizada das criptomoedas pode reforçar seu papel como porto seguro em tempos de incerteza econômica.

O Anúncio de Trump e a Reação Imediata do Mercado

O decreto presidencial, anunciado às 8h (horário de Brasília) de 23 de maio, pegou os mercados financeiros de surpresa. Trump justificou a tarifa de 50% à UE acusando o bloco de “tirar vantagem dos EUA no comércio” e criticou as negociações comerciais como “de baixa qualidade”. A decisão veio após meses de tensões, com os EUA já aplicando tarifas a países como China, México e Canadá, e a UE retaliando com impostos recíprocos de até 25% sobre produtos americanos, segundo a CNBC.

A resposta do mercado foi imediata. O índice S&P 500 caiu 1,2%, enquanto o Ibovespa recuou 0,9%. O dólar futuro subiu para R$ 5,82, refletindo a busca por ativos seguros. No mercado de criptomoedas, a aversão ao risco levou a uma liquidação generalizada. Dados do CoinGecko mostram que o valor total de mercado das criptomoedas caiu de US$ 3,57 trilhões para US$ 3,42 trilhões em poucas horas.

Impactos nas Principais Criptomoedas

O Bitcoin (BTC), maior criptomoeda em valor de mercado, caiu 1,56%, sendo negociado a US$ 109.447,60, após atingir uma máxima histórica de US$ 112 mil na véspera. O Ethereum (ETH) registrou perdas mais expressivas, com queda de 3,48%, cotado a US$ 2.577,48. Outras altcoins, como XRP (US$ 2,37, -2,39%), BNB (-1,87%) e Dogecoin (-1,75%), também sofreram desvalorizações. Cardano (ADA) caiu 2,32%, para US$ 0,7846, enquanto TRON (TRX) despencou 3,79%, para US$ 0,2677, e Sui (SUI) teve a maior queda, recuando 6,85%, para US$ 3,67.

Surpreendentemente, Solana (SOL) contrariou a tendência, subindo 1,61% para US$ 182,04. Analistas da Underblock atribuem a resiliência da Solana ao seu ecossistema robusto de finanças descentralizadas (DeFi) e NFTs, que continuam a atrair investidores mesmo em cenários de incerteza. “A Solana se beneficia de sua escalabilidade e baixos custos de transação, o que a torna atrativa em momentos de volatilidade”, explica Vinícius Bazan, presidente da Underblock.

Ameaça à Apple e o Reflexo no Setor Tecnológico

Além das tarifas à UE, Trump anunciou uma tarifa de 25% sobre produtos da Apple fabricados fora dos EUA, pressionando a gigante tecnológica a realocar sua produção para o território americano. A medida, segundo o Secretário do Tesouro, visa proteger a indústria doméstica, mas gerou preocupações no setor tecnológico. As ações da Apple caíram 2,3% no pré-mercado, impactando o índice Nasdaq.

O reflexo no mercado cripto foi indireto, mas significativo. Muitas carteiras de investidores institucionais combinam ações de tecnologia e criptomoedas, e a incerteza sobre o futuro da Apple intensificou a venda de ativos de risco. “A ameaça à Apple reforça o clima de instabilidade, levando investidores a reduzirem exposição a ativos voláteis, como criptomoedas”, afirma Paula Zogbi, analista da Nomad.

Criptomoedas como Porto Seguro: O que Dizem os Especialistas

Apesar das quedas, muitos analistas veem o momento como uma validação do papel das criptomoedas como ativos de refúgio em longo prazo. Michael Saylor, presidente da MicroStrategy, defendeu o Bitcoin como “reserva de valor superior ao ouro” em um post no X, argumentando que sua descentralização o protege de políticas governamentais imprevisíveis.

Beto Fernandes, da Foxbit, destaca que as tarifas de Trump podem aumentar a inflação global, encarecendo produtos e matérias-primas. “Nesse cenário, criptomoedas como o Bitcoin, com oferta limitada, tornam-se atrativas para investidores que buscam proteção contra a desvalorização de moedas fiduciárias”, explica. A QCP Capital, de Singapura, sugere que a volatilidade atual pode ser uma oportunidade de acumulação, já que a adoção de criptomoedas tende a crescer em períodos de incerteza econômica.

No entanto, nem todos são otimistas. Uma autoridade da UE declarou que “não existe criptomoeda segura” devido à volatilidade e à falta de regulação, reforçando a abordagem cautelosa do bloco com a MiCA (Mercados em Criptoativos).

Contexto da Guerra Comercial e Perspectivas Econômicas

A tarifa de 50% à UE é parte de uma escalada na guerra comercial iniciada por Trump em 2025, que já inclui taxas de 25% a México e Canadá e 34% à China. A UE, por sua vez, planeja retaliar com tarifas de até 35% sobre produtos americanos, como carros e tecnologia, segundo a Reuters. A Alemanha, maior economia da Europa, estima perdas de € 180 bilhões até 2028 devido ao conflito comercial.

A guerra comercial alimenta temores de inflação global e recessão. O Federal Reserve (Fed) enfrenta um dilema: aumentar juros para conter a inflação, atualmente entre 4,25% e 4,5%, ou manter a política monetária frouxa para evitar uma desaceleração econômica. Stefan von Haenisch, da Bitgo, alerta que “a incerteza macroeconômica reduz o apetite por ativos de risco, mas o Bitcoin pode se beneficiar no médio prazo como hedge contra a inflação”.

Conclusão

O anúncio de Trump de uma tarifa de 50% à UE e 25% à Apple intensificou a aversão ao risco nos mercados globais, derrubando o Bitcoin e outras criptomoedas. Apesar das quedas, a resiliência de ativos como Solana e a visão de especialistas sugerem que as criptomoedas podem se consolidar como refúgio em um cenário de instabilidade econômica. Enquanto a guerra comercial se intensifica, o mercado cripto enfrenta volatilidade, mas também oportunidades para investidores que apostam em sua recuperação a longo prazo.