Introdução: Um Novo Capítulo na Crise da Gripe Aviária

Na sexta-feira, 16 de maio de 2025, o Brasil registrou um marco preocupante na luta contra a influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1): o primeiro foco da doença em uma granja comercial, localizada em Montenegro, Rio Grande do Sul. Com cerca de 17 mil galinhas mortas ou sacrificadas, o caso desencadeou uma resposta imediata do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que decretou emergência zoossanitária por 60 dias na região. A detecção do vírus, que já circula globalmente, coloca o Brasil, maior exportador de frango do mundo, em alerta máximo, com impactos econômicos e sanitários reverberando internacionalmente.

Este artigo investiga a fundo a situação atual, os antecedentes globais da gripe aviária, as medidas de contenção no Brasil e os desafios econômicos que o setor avícola enfrenta, além de explorar o contexto internacional e as lições aprendidas com outros países.


O Caso Brasileiro: Detalhes do Surto

A granja em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre, abrigava 17 mil galinhas matrizes destinadas à produção de ovos férteis. Divididas em dois galpões, as aves sofreram uma mortalidade devastadora: em um galpão, todas morreram; no outro, cerca de 80% pereceram, com as sobreviventes sendo sacrificadas. O local foi interditado, e medidas de limpeza, desinfecção e rastreamento de ovos já movimentados foram iniciadas. A origem do vírus ainda está sob investigação, com hipóteses apontando para aves silvestres, equipamentos, calçados ou até água contaminada.

Além do caso na granja, o Rio Grande do Sul confirmou a morte de 38 cisnes e patos por H5N1 no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, a 50 km de Montenegro. Este segundo foco reforça a presença do vírus em diferentes ecossistemas, aumentando a preocupação com a disseminação.

Santa Catarina, estado vizinho, emitiu um alerta sanitário máximo, intensificando a vigilância em granjas e aves migratórias. O Ministério da Agricultura destacou que o Brasil possui um sistema robusto de monitoramento, implementado desde os primeiros surtos em aves silvestres em 2023, o que pode conter a disseminação.


Contexto Internacional: A Gripe Aviária Pelo Mundo

A gripe aviária não é novidade no cenário global. Desde 2006, o vírus H5N1 circula em regiões como Ásia, África e Europa, com surtos significativos em aves domésticas e silvestres. Em 2022, os Estados Unidos enfrentaram um surto massivo, com milhões de aves abatidas e impactos na produção de ovos e carne. A Europa também registrou casos em países como França e Reino Unido, levando a medidas drásticas de contenção e embargos comerciais. Recentemente, em 2024, a Argentina, vizinha do Brasil, detectou casos em granjas, o que culminou na suspensão de suas exportações para diversos mercados.

No Brasil, os primeiros casos de H5N1 foram registrados em aves silvestres em maio de 2023, em estados como Espírito Santo e Rio de Janeiro. Até então, o país havia mantido seu status de livre da doença em sistemas comerciais, um diferencial competitivo no mercado global. A chegada do vírus a uma granja comercial marca uma nova etapa, como destacou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Países como Japão, Arábia Saudita e Filipinas já adotaram a regionalização, limitando embargos apenas ao Rio Grande do Sul, enquanto China, União Europeia e Argentina suspenderam totalmente as importações de carne de frango brasileira. Essas medidas refletem protocolos internacionais para evitar a introdução do vírus em zonas livres da doença.


Impactos Econômicos: Um Setor Sob Pressão

O Brasil é o maior exportador de frango do mundo, com US$ 10 bilhões em vendas em 2024, representando 35% do comércio global. O setor emprega mais de 500 mil pessoas e é um pilar da economia. A detecção do H5N1 em uma granja comercial ameaça essa posição, com embargos comerciais já impostos por mercados cruciais.

A China, um dos maiores compradores, suspendeu as importações por 60 dias, seguida pela União Europeia e Argentina. A decisão, prevista em cláusulas contratuais, visa proteger os mercados internos desses países, mas impacta diretamente a cadeia produtiva brasileira. O especialista Ricardo Iglesias, citado pela CNN Brasil, sugere que a indústria avícola aumente a estocagem de produtos congelados em câmaras frias até a normalização do comércio. Ele enfatiza que a rapidez na contenção será crucial para minimizar danos.

A situação é agravada pelo momento delicado do setor, que enfrenta a fusão entre Marfrig e BRF, anunciada em 15 de maio de 2025. A operação, focada no processamento de aves, pode ser afetada pela incerteza gerada pelo surto.

Apesar dos desafios, associações como a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV) classificam o caso como “pontual” e confiam na agilidade das autoridades. Medidas como barreiras sanitárias, rastreamento de produtos e monitoramento de aves migratórias já estão em curso.


Segurança Sanitária: Riscos à Saúde Humana e Consumo

O Mapa e o Ministério da Saúde reforçam que a gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne de aves ou ovos. O risco de infecção humana é baixo, geralmente restrito a trabalhadores com contato direto e desprotegido com aves infectadas. Não há evidências de transmissão entre humanos ou de trabalhadores para suas famílias.

O ministro Carlos Fávaro alertou, no entanto, sobre os riscos de consumir frango cru, recomendando o cozimento adequado como medida de precaução. A população brasileira foi tranquilizada quanto à segurança dos produtos avícolas inspecionados, e o consumo interno deve prosseguir normalmente.


Medidas de Contenção e Perspectivas

O Brasil possui um histórico robusto de vigilância sanitária, com monitoramento de aves silvestres e treinamento de técnicos desde a detecção da Doença de Newcastle em 2024. Após o caso em Montenegro, o Mapa implementou:

  • Emergência zoossanitária por 60 dias em um raio de 10 km ao redor da granja.
  • Interdição do local e rastreamento de ovos férteis já distribuídos.
  • Barreiras sanitárias, com seis fixas e uma de desvio, para controlar o trânsito de veículos e insumos.
  • Investigação da origem do vírus, com foco em possíveis vetores como aves silvestres.

Cientistas entrevistados pela CNN Brasil afirmam que o país tem capacidade para conter a disseminação rapidamente, graças à infraestrutura de biossegurança e à transparência das autoridades. A FAO, por sua vez, destaca a importância de intensificar a vigilância em aves migratórias, que podem atuar como vetores do vírus.globoruralglobocom


Lições Globais e o Futuro do Setor Avícola Brasileiro

O surto no Brasil ecoa experiências de outros países. Nos EUA, a rápida resposta sanitária, incluindo o abate de aves infectadas e a desinfecção de instalações, conteve surtos em granjas comerciais. A França, por sua vez, investiu em vacinas para aves, uma estratégia que o Brasil pode considerar no futuro. A transparência na comunicação, como destacada pela ABPA, também é uma lição aprendida com casos internacionais, evitando pânico e desinformação.

O setor avícola brasileiro enfrenta agora o desafio de recuperar a confiança dos mercados internacionais. A regionalização, aceita por países como Japão e Arábia Saudita, pode minimizar os impactos, limitando embargos ao Rio Grande do Sul. No entanto, a retomada das exportações dependerá da demonstração de controle efetivo do vírus.


Conclusão: Um Alerta para o Futuro

O primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil é um alerta para a vulnerabilidade do agronegócio, um dos pilares da economia nacional. Embora as autoridades confiem na contenção, os impactos econômicos já são sentidos, com embargos comerciais e incertezas no setor. A experiência global mostra que a vigilância contínua, a transparência e a cooperação internacional são essenciais para enfrentar a doença.

O Brasil tem a oportunidade de transformar esse desafio em um exemplo de resposta sanitária eficaz, preservando sua posição de liderança no mercado global de aves. A população, por sua vez, pode continuar consumindo produtos avícolas com segurança, enquanto o país trabalha para conter o vírus e proteger sua economia.