Após mais de seis décadas no comando da Berkshire Hathaway, Warren Buffett anunciou que deixará o cargo de CEO no início de 2026. A notícia marca o fim de uma era para o mundo dos investimentos — não apenas pelo impacto que Buffett teve no mercado financeiro global, mas também por sua postura firme e polêmica contra as criptomoedas, especialmente o Bitcoin.

Buffett, conhecido como o “Oráculo de Omaha”, é uma das figuras mais respeitadas (e controversas) do universo financeiro. Ao longo de sua carreira, acumulou uma fortuna de mais de US$ 100 bilhões e construiu um império baseado em investimentos de longo prazo, com foco em empresas tradicionais, previsíveis e lucrativas. No entanto, sua reputação entre os entusiastas de cripto foi, desde sempre, de ferrenho opositor.

“Bitcoin é veneno de rato ao quadrado”, dizia Buffett

Buffett se tornou um símbolo da resistência de Wall Street às criptomoedas. Em diversas ocasiões, ele classificou o Bitcoin como um ativo especulativo, sem valor intrínseco e sem qualquer utilidade real. Entre suas declarações mais famosas, está a que comparou o Bitcoin a “veneno de rato ao quadrado” — uma fala que ecoa até hoje entre investidores e analistas.

Segundo Buffett, ativos digitais como o Bitcoin não produzem nada, não geram fluxo de caixa e não têm função prática que justifique seu valor de mercado. “Você não pode fazer nada com ele, exceto vendê-lo para outra pessoa”, afirmou em 2018. Ele também disse que não compraria todo o Bitcoin do mundo, mesmo se fosse oferecido por apenas US$ 25.

Buffett se aposenta, mas sua visão permanece viva na Berkshire

O anúncio oficial foi feito durante a tradicional reunião anual de acionistas da Berkshire Hathaway, em Omaha. Greg Abel, atual vice-presidente de operações não relacionadas a seguros, foi confirmado como o sucessor de Buffett. Abel é considerado há anos como o “herdeiro natural” e agora terá a missão de liderar uma das maiores companhias do mundo em um momento de transformação acelerada no mercado.

Apesar da transição, analistas acreditam que a cultura conservadora da Berkshire deve permanecer intacta no curto prazo — incluindo a desconfiança com ativos digitais. Embora algumas subsidiárias da empresa tenham exposição indireta ao setor de tecnologia, a holding nunca adotou criptomoedas em seu portfólio principal, em grande parte por decisão de Buffett.

Bitcoin em alta, Buffett em retirada

O contraste entre a aposentadoria de Buffett e o atual momento do mercado cripto é marcante. O Bitcoin, que já foi alvo de piadas e desprezo por parte do investidor, está em 2025 consolidado como um ativo global, com adoção crescente por instituições financeiras, fundos soberanos e investidores individuais. Além disso, ETFs de Bitcoin à vista foram aprovados nos EUA, aumentando ainda mais a legitimidade do ativo aos olhos de Wall Street.

Mesmo assim, Buffett nunca cedeu. Enquanto nomes como BlackRock e Fidelity se renderam à nova realidade, o “Oráculo de Omaha” permaneceu firme em sua crítica — um símbolo da velha guarda diante das mudanças tecnológicas que remodelam o sistema financeiro.

E agora? Berkshire Hathaway diante do mundo digital

Com Greg Abel no comando, surge a dúvida: a nova liderança manterá a postura ultraconservadora de Buffett ou começará a abrir espaço para investimentos mais modernos e inovadores, incluindo criptomoedas?

Até agora, Abel tem evitado comentários públicos sobre o assunto. No entanto, a pressão por modernização deve crescer nos próximos anos, especialmente se a empresa quiser manter sua relevância entre investidores mais jovens e fundos institucionais que já enxergam o Bitcoin como reserva de valor.

Fim de uma era

A aposentadoria de Warren Buffett encerra mais do que um ciclo corporativo: representa a despedida de uma mentalidade que moldou gerações de investidores. Enquanto ele se afasta dos holofotes, o mundo financeiro segue adiante, cada vez mais digitalizado e descentralizado — um cenário que o próprio Buffett jamais abraçou, mas que pode acabar moldando o legado de sua sucessão.