Crescimento do Bitcoin Acompanha Instabilidades Geopolíticas

O preço do Bitcoin ultrapassou os US$ 95.000 nos últimos dias, chamando atenção do mercado não apenas pelo aspecto técnico, mas também pelo pano de fundo geopolítico que pode estar influenciando a valorização. Especificamente, tensões comerciais recentes entre Estados Unidos e União Europeia têm reacendido debates sobre os impactos de disputas tarifárias e a busca por ativos alternativos de proteção — como o próprio Bitcoin.

Segundo a plataforma CoinCu, parte do otimismo no preço pode ter sido alimentado por uma pausa momentânea nas medidas retaliatórias da União Europeia diante das tarifas comerciais impostas por Washington. A percepção de que um colapso comercial maior foi evitado, ainda que temporariamente, gerou alívio nos mercados, beneficiando também os ativos digitais.

As Tensões Comerciais: O Que Está Acontecendo?

Nos últimos meses, a administração norte-americana reintroduziu tarifas sobre setores estratégicos da economia europeia, incluindo aço, produtos agrícolas e automóveis. O governo dos EUA justifica as tarifas como uma medida de proteção à indústria nacional, mas analistas apontam o movimento como parte de uma estratégia eleitoral de Donald Trump, que voltou a pressionar aliados históricos em negociações bilaterais.

Em resposta, a União Europeia ameaçou impor tarifas semelhantes, mas recuou diante da possibilidade de escalar a crise econômica já fragilizada por conflitos no Leste Europeu e incertezas no comércio global. A Comissão Europeia indicou que pretende buscar uma solução diplomática, mas alertou que “todas as opções estão sobre a mesa” caso os EUA não recuem.

Esse cenário de incerteza tem historicamente impulsionado fluxos de capital para ativos considerados “não soberanos”, como ouro — e, mais recentemente, o Bitcoin.

Bitcoin como Refúgio: Mito ou Realidade?

A ideia do Bitcoin como “ouro digital” tem ganhado força nos últimos anos, especialmente com a adoção institucional crescente e o fortalecimento de seu ecossistema financeiro. No entanto, sua real capacidade de atuar como proteção contra riscos geopolíticos ainda é debatida.

Para especialistas como Lyn Alden, analista macroeconômica, o Bitcoin tem características que o tornam resistente à censura estatal e à manipulação monetária, o que o tornaria atraente em cenários de conflito ou instabilidade cambial. No entanto, sua alta volatilidade ainda impede que seja plenamente classificado como um “porto seguro” em momentos de crise.

O analista Willy Woo destacou no X (ex-Twitter) que “o Bitcoin está cada vez mais se comportando como um ativo híbrido: parte tecnologia, parte ativo de risco, parte hedge contra falhas sistêmicas”. Ou seja, ele pode se beneficiar de eventos macroeconômicos adversos, mas não de forma linear.

Análise Técnica Reforça Momento de Alta

Do ponto de vista técnico, o gráfico diário do Bitcoin confirmou um padrão conhecido como Golden Cross — quando a média móvel de 50 dias cruza acima da média de 200 dias. Historicamente, esse sinal tem precedido períodos de alta sustentada, como ocorreu em 2020 e em 2021.

Além disso, indicadores como o RSI (Índice de Força Relativa) apontam para um momento de força compradora, embora já se aproximem da zona de sobrecompra. A liquidez nos níveis atuais, segundo dados da Glassnode, continua robusta, com entradas crescentes de capital institucional via ETFs de Bitcoin spot.

Efeito China e a Correlação Global

Outro ponto pouco discutido, mas relevante, é o papel da China neste momento. A reaproximação econômica entre Pequim e Moscou, somada à adoção cada vez maior do yuan digital em acordos bilaterais, tem levado países ocidentais a revisarem suas políticas de reserva e proteção cambial. Nesse contexto, ativos digitais globais e neutros, como o Bitcoin, voltam a ganhar atratividade.

Além disso, com o dólar oscilando frente ao euro e ao yuan, muitos investidores buscam diversificação fora do sistema bancário tradicional. Isso inclui criptomoedas, especialmente após a recente aprovação de ETFs nos EUA e no Reino Unido.

Conclusão: Investidores Devem Observar os Próximos Capítulos

O atual cenário de valorização do Bitcoin não pode ser explicado por um único fator. As tensões comerciais entre EUA e União Europeia, somadas à análise técnica favorável e à crescente incerteza geopolítica global, criaram um ambiente propício para a escalada do preço da criptomoeda.

Entretanto, permanece o alerta: o Bitcoin ainda não é um refúgio totalmente confiável para todos os perfis de investidor. A volatilidade continua sendo alta, e o mercado permanece sensível a mudanças de narrativa macroeconômica.

O investidor atento deve monitorar os desdobramentos diplomáticos entre EUA e UE, além de ficar de olho em novos movimentos regulatórios, fluxo institucional e o comportamento das chamadas “baleias” do mercado.