Zurique – 25 de abril de 2025 — O Banco Nacional Suíço (BNS) afirmou publicamente que não pretende adotar o Bitcoin como parte de suas reservas cambiais, mesmo diante do avanço de uma campanha popular que busca tornar essa prática obrigatória por meio de um referendo nacional. A decisão reacende o debate global sobre o papel das criptomoedas nas finanças públicas e expõe os desafios enfrentados por moedas digitais em busca de reconhecimento institucional.
Uma posição firme do BNS
Durante a assembleia anual de acionistas do banco, realizada em Berna, o presidente do BNS, Martin Schlegel, foi categórico ao afirmar que o Bitcoin não atende aos critérios essenciais para compor as reservas da autoridade monetária. Segundo ele, “o Bitcoin é altamente volátil e carece da liquidez necessária para ser considerado um ativo de reserva confiável”. Ainda de acordo com Schlegel, o BNS precisa garantir estabilidade, previsibilidade e resiliência em suas reservas — atributos que, na visão do banco, o Bitcoin não oferece.
A posição suíça segue a linha de bancos centrais mais conservadores, como o Banco Central Europeu (BCE) e o Federal Reserve, que também têm expressado reservas quanto à adoção de criptoativos como componentes formais das reservas soberanas. No entanto, contrasta com movimentos mais arrojados como o de El Salvador, que adotou o Bitcoin como moeda legal em 2021 e já acumula reservas em BTC.
Iniciativa popular pressiona por mudanças
A decisão do BNS não impediu o avanço da chamada “Iniciativa Bitcoin”, um movimento liderado por cidadãos, empresários e políticos ligados ao setor cripto. A proposta visa alterar a constituição suíça para obrigar o banco central a manter parte de suas reservas em Bitcoin, assim como hoje é feito com o ouro. A justificativa dos proponentes é de que o Bitcoin pode oferecer proteção contra crises globais, inflação de moedas fiduciárias e endividamento estatal.
Para que a iniciativa seja levada a referendo, os organizadores precisam coletar 100 mil assinaturas até o segundo semestre de 2025. Segundo informações do Swissinfo, mais da metade desse número já foi atingido em poucas semanas, revelando um crescente apoio popular à proposta, especialmente entre os mais jovens e defensores da descentralização financeira.
Impacto global e reflexos no Brasil
A decisão suíça tem implicações que vão além das fronteiras do país. A Suíça é um dos principais centros financeiros do mundo, conhecida por sua neutralidade econômica e estabilidade regulatória. Qualquer movimentação de sua autoridade monetária gera repercussões nos mercados internacionais.
Para o Brasil, embora ainda distante de adotar reservas em Bitcoin, o debate pode reacender discussões sobre o papel das criptomoedas no setor público. O Banco Central brasileiro já estuda e testa o Drex (Real Digital), mas mantém cautela quanto à integração de ativos voláteis como o BTC em sua política monetária.
Especialistas apontam que, mesmo com a rejeição inicial, a iniciativa suíça pode pavimentar o caminho para discussões mais sérias sobre o uso institucional do Bitcoin em economias avançadas. “É um marco simbólico: ainda que a proposta não passe, ela força o debate dentro de um país referência em finanças globais”, avalia o economista Rafael Gonçalves, em entrevista ao portal CryptoBriefing.
O futuro das criptos nas reservas nacionais
Ainda que o BNS rejeite o Bitcoin no momento, a discussão não deve arrefecer. A crescente institucionalização das criptomoedas, aliada à instabilidade de sistemas fiduciários tradicionais, tem pressionado governos e bancos centrais a reavaliarem seus paradigmas. A Suíça, pela sua abertura à inovação financeira, pode estar no centro dessa transformação — mesmo que, por ora, resista a ela.